|
Hoje acordei de maneira diferente. Às 5:30 da manhã, uma sucessão de tiros tirou todos da cama na minha vizinhança. Algo que eu nunca havia presenciado....
Morar no Rio de Janeiro, agora tem destas coisas. Nenhum bairro está mais a salvo da violência.
Certos tipos de acontecimento são dificieis de digerir. Hoje testemunhei um fuzilamento covarde. Bandidos passaram de carro e sem a menor piedade fuzilaram um carro da Policia Militar que faz diariamente a segurança da minha rua.
Os policiais provavelmente nem tiveram como reagir. O som explosivo dos tiros de grosso calibre soavam como bombas no ínicio desta manhã.
O que se sucedeu foram vários gritos desesperados das pessoas que logo depois passaram pela frente do acontecido.
Exatamente ao lado do meu prédio!!!
A sensação de insegurança aumenta e chega uma hora em que eu não sei mais para onde correr.
O mais triste desta situação, é que estes fatos estão se tornando banais. Tão banais que ao ver minha mãe subir desesperada de medo ao meu quarto, a minha única reação foi dizer tranquilamente: "os caras foram fuzilados".
Então o silêncio causado pelo estrondo dos tiros foi dando lugar ao canto dos pássaros. Meu cachorro já me olhava com aquela cara de pidão, querendo ir à rua fazer seu xixi matinal.
É estranho perceber como estes seres estão alheios ao que ocorreu. É estranho perceber como também ficamos tão alheios quanto eles quando estas coisas acontecem longe. Quando você não vê ou assiste à cena.
Tentei deitar-me mais uma vez na minha cama, antes de trabalhar. Tentei pensar sobre estas coisas. Tentei...mas a única reação após tudo isso foi chorar sozinho no travesseiro.
Chorar por não entender o por quê de tanta ignorância, tanta intolerância. E mil coisas surgiam na minha cabeça, que esta hora também se via no meio de um tiroteio.
Resolvi pular da cama, peguei o notebook e vim para sala escrever.
Acabo de voltar da rua, e nunca vi uma manhã tão silenciosa. Dezenas de pessoas na rua. Atônitas, não conseguiam se comunicar. Os olhares para baixo. Juro que não ouvi nem o barulho dos carros.
Como começar o dia então? O que vai acontecer agora. A vida vai continuar, e daqui a 3 dias, ninguém mais vai estar pensando nisso. Até porque outra tragédia desta possivelmente haverá acontecido nesta guerra de poder sem sentido.
São pessoas simples que vão perdendo suas vidas. Policiais, ou pessoas que não tiveram grandes oportunidades e tornaram-se criminosos. Enquanto os poderosos continuam intocáveis, lá em cima, nos seus jogos de milhões de dólares.
Os exemplos que temos infelizmente são estes. "Satyagrahas" da vida que nem seguem muito a frente, pois aqueles que se esforçam em limpar alguma sujeira, são rapidamente tirados de cena.
Fica o pensamento se pessoas de bem, querem afinal, se meter com tanta lama para tentar salvar o mundo.
Yogis como Gandhi, acabam levando um tiro.
Será que nós, simples yogis e pessoas de bem vamos ter força para fazer alguma coisa?
Venho aprendendo ao longo do tempo a me proteger. Tento no meu tapetinho proteger o meu corpo. Tento torná-lo meu templo. Tento absorver valores como a não-violência, a tolerância, compaixão, honestidade...
E sei também que de nada valerão se eu não puder conduzir estes valores à minha vida cotidiana. Às minhas ações mais simples e comuns.
Mas como me proteger disso? Uma sensação de impotência me toma agora.
O que eu poderia fazer em relação à estas coisas?
Como proteger minha familia, meus amigos, todos aqueles que gosto?
Uma vez ouvi Marcelo D2 cantando: "Vamos proteger os nossos!" Mas como? Eu não sei me defender de uma porrada desta.
Se ver uma cena destas já dói. Imagine se tivesse uma relação ainda mais estreita comigo?
É duro tentar pensar que as coisas são o que tem que ser nestes momentos. Pensar que o Dharma, a ordem que conduz todo este universo pode ser tão cruel a meu julgamento.
Khsanti, a aceitação, não é fácil!!!
Fico com medo de receber uma notícia ruim. De perder meus amados e amadas. Fico com medo de sair para me divertir, para celebrar a vida.
Perco minha coragem, meu ímpeto. Minha alegria. As boas risadas de ontem à noite desaparecem.
Tudo na vida é impermanente, vai mudando, eu sei muito bem. Mas está difícil de aceitar.
Fazer um movimento, mudar esta paisagem se torna cada vez mais dificil.
Enfim, acho que o desabafo me acalma e fica aqui uma maneira de conversarmos. De pensarmos juntos em alguma coisa.
Só posso rezar e "mantrar" para proteger os meus. Façamos isso juntos.
Como diz o mantra: "Que possamos estar unidos e protegidos."
Que possamos sempre voltar para casa. E lembrem-se de viver o hoje! Faça o que tiver que se feito hoje. Realize hoje, ame hoje, beije e abrace hoje!! O presente é o nosso presente maior!
Este texto foi escrito no dia 17 de Julho de 2008. |
