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Ensinamento

O indivíduo e o todo - o bhakta
Miguel Homem
15-11-2010


O indivíduo é apenas um indivíduo porque está separado do todo, porque se vê separado do todo. Quando nos identificamos com o complexo mente-corpo-sentidos tornamo-nos um indivíduo. Como indivíduos assumimos inúmeros papeis. Todos assumimos o papel de filhos, embora absolutamente não possamos dizer que somos filhos. Num momento assumimos esse papel, mas no momento seguinte assumimos o papel de pai, mãe, irmão, empregado, patrão, aluno, professor. Os papéis que assumimos mudam constantemente e alternam-se sucessivamente. Ao analisarmos, percebemos que os nossos problemas são sempre problemas relativos aos papéis que assumimos. Isso explica que como filho possa ter um problema que como aluno não exista. Também explica que quando, por algum motivo, temos de assumir um papel diferente daquele que tinha o problema, este acaba por perder a sua intensidade.


Os papéis são relativos ao tempo e espaço, mas eu permaneço por entre todos eles. No entanto, uma relação é absoluta: a relação indivíduo-todo; jíva-Íshvara. Esta relação é absoluta, porque um indivíduo só existe por referência ao todo, da mesma forma que o filho só existe por referência aos pais. No entanto, enquanto o indivíduo está presente em todos os papéis, o filho só está presente nesse papel específico. Aquele que aprecia e reconhece essa relação indivíduo-todo e reconhece-se como nunca isolado, nem separado do todo torna-se um bhakta. Este bhakta passa a estar subjacente a todos os papéis, e com ele a sensação de separação e desamparo desaparece, porque se estabelece em permanente relação com o infalível. E o infalível é Íshvara.

Na meditação, como o mantra aponta para o todo, Íshvara, estabeleço essa relação básica por detrás de todos os papéis. Assim, deixo cair os papéis e com eles as distracções a eles associadas. Na relação indivíduo-todo não há distracções. Percebe-se assim, a importância do mantra, do seu significado, e o conhecimento existente por detrás da meditação.

Através deste processo o meditador é encontrado. E o meditador é o bhakta.

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Este meditador é a pessoa essencial que somos, o ser cognitivo. O ser cognitivo é aquele que conhece. A visão acontece e vê, a audição acontece e ouve. A cognição acontece sem esforço, sem decisão própria. O ser cognitivo, a pessoa intrínseca a esse ser é despida de preferências e objectiva, porque apenas se dá conta do que acontece. O juízo de valor do que acontece aparece associado aos papéis.
Essencialmente, somos este ser cognitivo, e esta pessoa, enquanto indivíduo é o meditador. O processo para encontrar este meditador surge na descoberta de que o indivíduo nunca existe sem ser em relação. A individualidade é sempre uma individualidade em relação a algo. Existe portanto sempre uma relação imanente a cada indivíduo. Esta é a relação indivíduo-todo. Da mesma forma que uma árvore está sempre relacionada com a floresta em que se insere. Mesmo quando a árvore estabelece relação com outras árvores e outros seres à sua volta, a relação árvore-floresta nunca deixa de estar presente.

Na meditação procuramos relaxar primeiro, e quando todos os demais papéis que assumimos são deixados cair e apenas aquela relação básica fica presente, cultivamos a objectividade e o meditador aparece - o bhakta. Assim, a meditação é antes do mais um encontro comigo mesmo. Um encontro com a pessoa essencial que sou, despedida do papel de filho, irmão, aluno ou professor.

Como ajuda a meditação? A limitação que sentimos não desaparece quando procuramos ajuda noutra pessoa limitada. Faz-se necessário por isso descobrir uma ajuda que seja consistente, sempre disponível, em todas as áreas, algo que não falhe; uma ajuda que não tenha qualquer falha em termos de presença, de distância, de conhecimento ou poder. A ajuda tem de ser infalível, de facto o infalível é o que procuramos na vida e nada mais... Onde está? Tem de estar aqui e agora ou então não é infalível e sempre agora, eternamente agora. Eu devo ver esse infalível, a ausência de qualquer lacuna e então posso relaxar. Preciso de reconhecer nessa presença, a ausência de qualquer querer e então tenho razão para relaxar.


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