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Ensinamento

Upásana, as diferentes meditações de preparação
Miguel Homem
17-01-2011


Como preparação para o estudo referiu-se noutro lado o sadhána chatustayam e dentro dele shatkasampattih, as seis virtudes.


A mente precisa de qualificações diferentes como shama, calma, samádhána, concentração, dharma, uma mente generosa, livre de egoísmo e com valores. O yogí necessita de uma mente com capacidade de expansão para se identificar com o todo, porque Brahman é sarvagatam, tudo permeia.
Há, por isso, necessidade de uma mente relaxada, concentrada, com valores e como há necessidade de diferentes atributos, há também necessidade de diferentes tipos de preparação. Assim, a meditação também tem de ser de diferentes tipos, adequada ao que se quer desenvolver, às diferentes qualificações precisas.

Para cada tipo de preparação há uma forma de meditação. É preciso por isso adequar. Relaxar não é estar concentrado e isso explica que quando estamos tensos ou nervosos e nos sentamos para fazer japa, continuamos tensos. O que a mente precisava era shama e damos-lhe samádhána. A meditação em valores também não é relaxamento. Cada uma delas é um exercício diferente e todas elas são mánasa vyápárah, uma actividade mental. Vejamos estas meditações separadamente.

Shama


Na meditação de relaxamento, o objecto não é concentração em algo mas apenas relaxar. Existem muitas formas de o fazer, como esvaziar a mente de preocupações a cada expiração e inalar tranquilidade a cada inspiração ou, aderindo mais à definição de meditação, fazê-lo com Íshvara.
Não tentamos eliminar, nem criar pensamentos, antes ignoramos os pensamentos que vão chegando. Quando tentamos eliminar pensamentos, só conseguimos torná-los mais fortes. Na meditação decidimos não cooperar com os pensamentos, porque nenhum pensamento permanece na mente sem o meu alimento.
A meditação de relaxamento pode ser uma meditação por si mesma, ou uma preparação para outras meditações e até mesmo uma preparação antes de ouvir um ensinamento.

Chitta samádhánam


Como o próprio nome sugere, a meditação de concentração serve chitta ekagratá, chitta samádhánam. Damos uma ocupação à mente sem oportunidade de distracção, e damos uma ocupação com valor espiritual.
Esta ocupação costuma ser dividida em três, manasá pújá, manasá paráyanam e manasá japa. Manasá significa mental, a meditação é sempre uma actividade mental.
Manasá pújá é um pújá feito mentalmente, e por isso envolve a visualização de uma serie de acções mentais e objectos. Essa área de concentração é reduzida no manasá paráyanam, onde o exercício mental consiste apenas em cantar mentalmente versos, stotram, como o Guru Stotram, Gítá Dhyánam ou Nirvána Shatkam. Aqui, a concentração acontece apenas em palavras. Podemos recitar mentalmente ou ouvir alguém recitar qualquer stotram. Reduzindo ainda mais o campo de concentração, temos o manasá japa. Em paráyanam a concentração é feita em muitas palavras, mas em japa é feita em poucas, só um náma, um nome. Nestas meditações evita-se a mecanicidade e cria-se um estado de atenção permanente, sob pena de se perder o propósito. A prática pode, e sugere-se, que seja precedida e seguida, da meditação de relaxamento.


Vírat upásana


Na meditação de expansão o egoísmo desaparece. Olhamos para o universo como uma unidade e vemo-nos como uma parte integral do mesmo - vírát upásana, vishva rúpa upásanam. Na meditação de expansão não se cria a divisão entre eu e o universo. Esta divisão cria o egoísmo e com ele rága/dvesha. Nada se reclama como meu, porque tudo pertence ao todo. Desenvolve-se uma visão maior, uma família global maior e, por isso, um ego menor.
Esta meditação é recomendada e descrita na Taittiríya Upanishad, na primeira secção Shikshá Valli. E é recomendada não de olhos fechados, mas às vezes abrindo os olhos e vendo o mundo. Olhar para o todo, ir à praia e contemplar o vasto oceano, parar e admirar o céu. É muito importante sair da sala de prática e aprender a apreciar o todo, Íshvara.

Ahimsá, kshanti, árjavan... upásana


Esta é a meditação nos valores éticos que norteiam uma vida de acordo com o dharma. Valores como ahimsá, não violência, satya, verdade, santosha, contentamento ou amánitvam, ausência de vaidade, kshantih, aceitação, árjavan, rectidão, anahankárah, ausência de egoísmo, dayá, compaixão, dánam, caridade são enaltecidos e explicados nos shástras.

Se formos praticar esta meditação, primeiro temos de estar intelectualmente convencidos do valor destes valores, de que só eles nos trarão paz e ausência de conflito interno e que a espiritualidade nasce assente no solo fértil de uma vida ética assente em valores. Esta convicção deve sobrepor-se ao próprio sacrifício material ou emocional que possa advir de uma vida de dharma. No dharma, não há compromisso! Quando o objectivo espiritual do ser humano é claro, e a prioridade em relação a quaisquer objectivos materiais está claramente estabelecida, o valor pelos valores é, também, naturalmente forte e inabalável. Valham o exemplo de Ráma e de Nachiketas.


Na prática desta meditação, olhamos para nós imbuídos de todas estas virtudes. Vemo-nos como pacientes, independentemente das situações que imaginamos poderem irritar-nos. Criamos mentalmente situações susceptíveis de nos provocar medo e vemo-nos sem medo. Imaginamo-nos em situações que possam por em causa os nossos valores e vemo-nos estabelecidos neles. Cada pessoa conhece as suas fraquezas, pelo que pode propositadamente revivê-las na meditação e ver que em situações semelhantes nunca reagirá fora do que considera apropriado. Para alguns o calcanhar de Aquiles é o medo, para outros a raiva ou ciúme. Cada não valor é compensado com um valor, substituindo-se uma tendência menos positiva por outra virtude positiva. Tradicionalmente falam-se nos seis inimigos, shat rbuh, káma (desejo), krodha (raiva), lobha (ganância), moha (ilusão), mada (orgulho), mátsarya (inveja), que devem ser substituídos, respectivamente, por santosha (contentamento), kshama (aceitação), dánam (caridade), viveka (discernimento), vinaya, (humildade).
Este mecanismo é conhecido como pratipakshabhávanam e deve ser seguido pela aplicação no dia-à-dia daqueles valores, o que acontecerá naturalmente sob pena da pessoa viver em conflito interno.
Esta é uma meditação importante porque o estudo sem valores não produz qualquer resultado e por isso, para essas pessoas, o vedánta parece ser apenas uma teoria, porque não encontra o solo fértil para beneficiar a pessoa.


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