Uma vez que decidimos praticar ahiṁsā, não podemos esperar mudanças radicais no mundo e nas pessoas. As mudanças não vão ocorrer rapidamente mas sim gradualmente. Crescimento não é uma revolução, é uma evolução. Requer tempo. Se queremos mudar alguém na família (por exemplo os filhos) porque queremos que cresçam e amadureçam, uma vez que decidimos seguir o valor da não-violência, temos que saber dar tempo. E esse tempo de espera requer kṣāntiḥ. Kṣāntiḥ significa aceitação, tolerância ou acomodação. Kṣāntiḥ é uma consequência natural da nossa decisão em praticar ahiṁsā, a não-violência.
Se não estamos felizes na vida, isto deve-se basicamente à nossa incapacidade em aceitar o mundo, em aceitar as situações e as pessoas tal como são. Como seres humanos todos partilhamos um problema fundamental: resistência mental em relação a situações difíceis na vida. Isto é um sério problema. Porquê? Porque todos os seres vivos têm que confrontar-se com situações difíceis. Isto é um facto. E perante tais situações nós desenvolvemos uma resistência mental: não queremos enfrentar situações difíceis, não as aceitamos. Esta resistência mental é o maior inimigo que temos! Como resolvê-lo?
Cultivando a aceitação, a acomodação de tais situações difíceis. Todos os problemas que temos resumem-se ao problema da não-aceitação:
Exemplo da raiva: eu não aceito tal comportamento de determinada pessoa e por isso fico com raiva.
Exemplo da inveja: eu não aceito que os meus amigos, familiares ou vizinhos tenham mais do que eu.
Exemplo do medo: eu não consigo aceitar certas situações que podem acontecer no futuro; eu não consigo lidar com a perda, com o fracasso, etc.
Kṣāntiḥ é então o antidoto para resolver a nossa resistência mental perante situações difíceis. Uma atitude de kṣāntiḥ significa sermos objectivos em relação à vida, em relação às situações e às pessoas. Ser objectivo é olhar para as coisas como são e perceber que existem muitas coisas sobre as quais não temos escolha, coisas que não podemos mudar. E sendo assim resta-nos aceitar.
Na vida, a maior parte das coisas não estão sob o nosso controlo. Existem muitas coisas que não podemos mudar. O passado não pode ser mudado porque já aconteceu. O presente não pode ser mudado porque o presente já chegou. E mesmo em relação ao futuro, muitas coisas não podemos controlar: as doenças que invariavelmente o nosso corpo vai sofrer, a velhice, a morte do corpo e um sem número de eventos que vão acontecer. Não podemos mudar a Natureza, o estado do tempo ou o comportamento das pessoas.
A atitude mais inteligente a cultivar na vida é a de aceitação. Da mesma forma que aceitamos que o fogo queime, que a chuva molhe ou que um mosquito pique porque essas são as suas naturezas e não podemos mudá-las, deveríamos cultivar a mesma atitude em relação às pessoas. Cada pessoa é como é e não podemos mudá-la, a menos que ela deseje essa mudança.
Se exigimos que os outros nos aceitem como somos, devemos também aprender a aceitá-los tal como são. Aceitar as suas opiniões, os seus gostos e os seus comportamentos. Podemos até não concordar com as suas palavras ou acções, mas devemos ter a capacidade para acomodar a pessoa dentro de nós. Acomodar pacificamente, sem mágoa, sem rancor. Caso contrário, ao não aceitarmos as pessoas e as situações como são, guardaremos dentro de nós mágoa, rancor e outras emoções negativas. Ao longo da vida, vamos coleccionando estas emoções pesadas e o resultado será uma mente perturbada, agitada e infeliz. Com uma mente assim, o autoconhecimento torna-se numa tarefa impossível.
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