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Ensinamento

Dakshinamurti
Camila Melo
13-11-2013


Na tradição védica existem vários símbolos para Deus. Isso não quer dizer que existem vários Deuses e sim várias representações dos diferentes aspectos do todo em formas distintas.
E porque essa variedade? Tudo que conhecemos é baseado em nome e forma, apesar de Deus ser livre de ambos existe uma infinidade deles para representá-Lo, pois nossa mente se relaciona melhor com o que é conhecido, visível e palpável. Assim as deidades são representações de aspectos do todo para que possamos nos relacionar melhor com Deus. Esse "todo" é o universo, no qual estamos inseridos, que compreende tudo aquilo que conhecemos, tudo o que não conhecemos e tudo o que não podemos conhecer, mas que existe.

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Existem várias histórias mitológicas acerca das deidades hindus. Essas histórias encontram-se nos Purāṇas, a literatura mitológica védica. São muitas e fascinantes as histórias sobre a cosmogonia e os primórdios do universo que ilustram as pequenas histórias contadas nos vedas. Elas falam, por exemplo, da tríade Brahma, Viṣṇu e Śiva. Onde Brahmaji é o criador e tem Sarasvati, a deusa do conhecimento, como sua consorte; Viṣṇu é o sustentador, preservador, e tem Lakṣimi, a Deusa da prosperidade, como sua esposa; e Śiva, o transformador ou destruidor, que é casado com Parvati e é pai de Gaṇeṣa, o senhor dos obstáculos! Todas essas histórias contribuem para o nosso entendimento e facilitam a nossa relação com Deus, uma vez que acabamos nos identificando mais com uma ou algumas dessas representações e estabelecemos um diálogo, nos sentindo mais próximos da nossa natureza.

É dito que quando o Dharma está em perigo os devatas assumem formas humanas para reestabelecê-lo e protegê-lo, isso é considerado um avatāra. Assim, para quem está interessado no autoconecimento, existe a figura de Dakṣiṇāmūrti cujo avatāra é descrito na Sūta Samhitā que faz parte do Skanda Purāṇa e tem a missão de proteger o "Dharma do autoconhecimento", ātma-dharma. Dakṣiṇāmūrti é uma das formas de Śiva, é a deidade que representa o conhecimento, o professor, sendo o primeiro mestre, aquele que primeiro ensinou os vedas. Aquele que remove a ignorância a respeito da nossa natureza e também nos abençoa com capacidades para o estudo, capacidade de memória, de ater o conhecimento e poder acessá-lo quando necessário.

Dakṣiṇāmūrti é o Senhor apresentado em 8 aspectos, aṣṭamūrti, que representam todo o universo.
Esses 8 aspectos são: os 5 elementos (espaço, ākāśa, vento, vāvyu, fogo, agni, água, āpaḥ, e terra, pṛthivī), a lua, chandra, o sol, sūrya, e o oitavo aspecto é aquele que está olhando para Ele, o jīva. Dessa maneira Īśvara está completo, o que também inclui você!

Em uma das mãos Dakṣiṇāmūrti segura um pequeno tambor, damaru, representando o espaço, uma vez que o damaru produz som e o som se propaga no espaço.
O vento é muito difícil de se representar em uma imagem, assim a bandana que segura seu cabelo rastafari no lugar faz alusão ao vento. Em outra mão ele segura uma tocha de fogo. A água é representada por Gangā que está sentada em sua cabeça e também representa o fluxo perene do conhecimento. A terra é representada por toda a imagem em si.

A Sūta Samhitā também diz que o corpo de Dakṣiṇāmūrti é metade mulher, onde a mulher é seu próprio poder infinito não sendo diferente dele mesmo. Esta representação está de forma sutil na imagem: na orelha direita há um brinco masculino e na esquerda um brinco feminino. Podemos associar a esse motivo também a disposição da lua e do sol: do lado esquerdo da cabeça ele tem uma lua crescente, que representa todos os planetas e satélites, e do lado direito está o sol representando todas as estrelas.

Em outra de suas 4 mãos está um livro, śāstra, que representa os vedas. Seu cordão sagrado, yajñopavīta, representa o conhecimento dos vedas.
Sua mão direita está em cinmudrā, ou jñāna mudrā, onde o dedo polegar é Īśvara e o dedo indicador é a pessoa, jīva, que se juntam representando a identidade entre o indivíduo e o todo. Esse é um gesto conhecido no mundo do yoga e muito usado nas práticas de meditação. O dedo indicador também representa o ego, aquele que aponta, que gosta e desgosta, que se identifica com o corpo e com os estados da mente, que deposita sua felicidade e suas expectativas nos objetos e que sofre, já o dedo polegar representa o ātma, o Eu que é livre dos gostos e aversões, livre do corpo, da mente e de todo e qualquer atributo, livre do tempo e do espaço, que é ilimitado, completo e é a própria natureza da felicidade. A união deles representa o conhecimento, "a iluminação do ego" se assim podemos dizer, o reconhecimento da nossa própria natureza. O que não quer dizer que se possa ganhar esse conhecimento com a meditação ou simplesmente com a união dos dois dedos, pois este conhecimento não é fruto de nenhuma ação senão daquilo que é escutado de um professor qualificado, que na tradição representa o próprio Dakṣiṇāmūrti.
Ainda em sua mão direita há um japa mālā, representando todos os sādhanas, as práticas que fazem parte da vida de yoga e que são os meios que preparam o corpo e a mente para o estudo.

Debaixo de seu pé direito há um cara de bigode com uma faca na mão, chamado apasmāra, que representa todas as questões emocionais e inabilidades da mente em compreender o ensinamento. Todas essas questões e inabilidades estão sob controle quando há as bênçãos de Dakṣiṇāmūrti.
Aos seus pés há 4 homens que, de acordo com uma das histórias, são os 4 ṛṣis (Sanaka, Sanandana, Sanātana e Sanatkumāra) que foram os primeiros a receber esse conhecimento direto de Dakṣiṇāmūrti. Em outra história cada um deles representa um dos 4 vedas.
Seu veículo é um touro que representa māyā, todo o poder. Nos templos há sempre um touro olhando para Dakṣiṇāmūrti, pois em todo templo de Śiva há um Nandi, touro, sentado de frente para a mūrti principal do templo. O Nandi também representa o dharma e não apenas é o veículo de Śiva como também leva até ele nossas orações.

A imagem de Dakṣiṇāmūrti tem sempre um sorriso no rosto, muditavadanam, pois ele está dizendo que você é ānanda! Que você já é completo e pleno do jeito que você é, apesar de todas limitações aparentes, que você é a natureza da felicidade que está sempre presente, independente de fatores externos, e que não é afetada pelo espaço, tempo ou pelos os objetos.

Esse é Dakṣiṇāmūrti, dakṣiṇā abhimukhā mūrtiḥ, aquele que olha para o sul. Mas na verdade não é ele que olha para o sul, nós é que olhamos para o norte, porque o norte representa mokṣa e nós queremos mokṣa, queremos nos ver livres do senso de limitação, insegurança, medo, da necessidade de nos tornarmos algo diferente, enfim queremos nos livrar da ignorância que nos impede de ver nossa real natureza e é responsável pelas confusões e noções erradas que temos a nosso respeito, o que só é possível através do conhecimento. Nós olhamos para o norte, portanto ele está olhando para nós!

Que com as bênçãos de Dakṣiṇāmūrti possamos ter maturidade emocional e a mente preparada para continuar nosso estudo e alcançar cada vez mais clareza nesse conhecimento para que possamos reconhecer nossa verdadeira natureza e lidar com o mundo de forma objetiva. Essa é a verdadeira liberdade!


OM TAT SAT


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