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Ensinamento

O equívoco do vazio da mente e da mente impura
Miguel Homem
25-05-2015


É importante reconhecer que aquilo que sou verdadeiramente, ātmā, não vai chegar numa experiência e ir embora noutra. É que eu não chego, nem vou embora. Eu, ātmā, estava antes de qualquer experiência específica, estive durante e estarei depois, sou sempre o mesmo. Ātmā não chegará numa experiência especial, mas ātmā será a testemunha de todas as experiências, especiais ou vulgares.

Imaginando que removemos todas as experiências, removemos todos os pensamentos, essa condição da mente será uma condição específica da mente que é o estado sem pensamentos da mente. Mesmo esse estado não pode ser ātmā, porque continua a ser um estado, num momento específico que vem e vai embora. É uma experiência particular da mente diferente de outras experiências particulares da mente, e tão temporária como as outras experiências. Assim, ātmā é confundido, ou com uma experiência específica ou com o estado em branco da mente.

Vejamos melhor este vazio da mente. Não é um facto que quando os pensamentos são removidos, a experiência do ātmā se torna mais clara? Se dizemos que quando os pensamentos estão ausentes, o ātmā aparece e quando estão presentes, o ātmā vai embora, então quem será a testemunha desses pensamentos? O ātmā está presente durante um estado com ou sem pensamentos, o ātmā é a luz que ilumina ambos os estados.

Diríamos então que, talvez no estado sem pensamentos o ātmā possa ser experimentado, mas no estado com pensamentos não possa ser experimentado. Se nós perdemos o ātmā numa condição da mente iremos perdê-lo em qualquer condição. Imaginem um palco iluminado: numa circunstância ele está repleto de objectos e noutra circunstância sem qualquer objecto. Em ambas as circunstâncias tem-se a percepção da luz. Se a presença da luz se perde numa situação, perder-se-á na outra. De facto, se com o palco vazio a percepção é só de que o palco está vazio, não vamos reconhecer a luz. Se reconhecermos a luz num palco vazio, vamos reconhecê-la sempre, mesmo estando cheio.

De forma semelhante, geralmente o que acontece é que perco a noção da consciência, da presença que somos, que ilumina os pensamentos quando eles estão presentes. A mente é um placo e os pensamentos são coisas no palco. Nós podemos enumerar o que vemos, gostos, aversões, compaixão, enumeramos muitos vṛttis, mas perdemos o reconhecimento da consciência. Ora, quando perdemos a consciência na presença de pensamentos, se removermos todos os pensamentos vamos perdê-la também e veremos apenas o vazio. Por outro lado, se consigo ver que não é um vazio e que a experiência de vazio existe apenas porque a consciência está lá, se eu sou consciente de mim mesmo, não posso perder a consciência mesmo quando os pensamentos estão presentes. A mesma consciência está lá na experiência de pensamentos e de ausência de pensamentos.

Essa consciência na presença de pensamentos não é impura? Há quem tenha a ideia de que por causa da presença de desejos, aversões, apego e limitações, esses pensamentos teriam de ser removidos para encontrarmos a consciência pura. Voltando ao nosso exemplo da luz e do palco, a luz é pura quer haja ou não coisas impuras no palco, quer ilumine sujidade, ballet ou o palco vazio. A luz é sempre asaṅgaḥ, livre de associação, por isso nitya śuddha. Assim, tenha a mente uma condição com ou sem pensamentos, eu, a consciência, sou livre de imperfeição e estou disponível em todas as condições.

Eu tenho de saber que o reconhecimento da consciência não é uma experiência específica, mas que o reconhecimento da consciência é sempre como eu, em todas as experiências.


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