Regra geral, apelidamos de prāṇāyāma todos os exercícios respiratórios feitos no yoga. No entanto, no yoga a enfâse está no kumbhaka, nas retenções, de tal forma que é assim que a Haṭha Yoga Pradīpikā identifica os prāṇāyāmas. Assim, há que fazer uma primeira distinção entre os prāṇāyāmas propriamente ditos, que são feitos com kumbhaka e outros prāṇāyāmas que consistem nas diferentes formas da respiração completa.
Um primeiro ponto de distinção relaciona-se com a absorção de oxigénio. Diz-se muitas vezes que através do prāṇāyāma trazemos mais oxigénio para o corpo. Isso é, sem dúvida, verdade no que toca aos exercícios de respiração completa, mas não para o prāṇāyāma com kumbhaka. O primeiro ponto a reter é que o nosso corpo não acumula nem armazena oxigénio. Ele é retirado da atmosfera na medida do que o corpo vai precisando. Durante a retenção o que temos é mais tempo para as trocas gasosas entre o sangue e o ar, mas se formos comparar os valores relativos a 1 minuto de respiração normal com 1 minuto de prāṇāyāma com retenção verificávamos que a quantidade de oxigénio disponível no prāṇāyāma seria menor do que na respiração normal.
Assim, o primeiro foco deve ser no sentido de desenvolver uma respiração profunda, completa, controlada, lenta, uniforme e nasal.
O prāṇāyāma visa, de forma genérica, a capacidade de respirar mais lento do que o normal, aquilo a que chamamos hipoventilação. A respiração profunda e completa faz com que de forma geral o ciclo respiratório seja maior e portanto respiramos menos ar. Isso faz com que seja mais fácil à corrente sanguínea nutrir o cérebro e coração. Faz também com que a hemoglobina transfira de forma mais eficiente oxigénio às células do corpo, além de aquietar o sistema nervoso e reduzir o apetite.
De facto, no prāṇāyāma respiramos o mínimo de vezes possível, confortávelmente, durante um período de tempo por forma a aumentar o nível de dióxido de carbono. A quantidade de dióxido de carbono no organismo determina a quantidade de oxigénio que os glóbulos vermelhos levam às células (por causa do efeito de Bohr[1]). Se não existe dióxido de carbono suficiente, os glóbulos vermelhos tendem a reter o oxigénio e não o libertam para as células. Ora, quando mais oxigénio chega às células existe a possibilidade de produzir até 18x mais energia por cada molécula de glucose.
O dióxido de carbono é, assim, uma substância importante no organismo. Ele provoca a expansão das artérias para o cérebro de coração (vasodilatação) e melhora a circulação sanguínea. Mais, melhora a respiração ao provocar dilatação das paredes musculares dos brônquios, que aumentam o seu diâmetro interno para permitir um maior fluxo de ar (broncodilatação). O dióxido de carbono acalma o sistema nervoso e reduz o stress. Por fim, é a principal razão para o chamado efeito de Bohr que faz com que mais oxigénio seja depositado nas células do corpo. Quando o oxigénio é usado pelas células no metabolismo do açúcar, obtemos até 18x mais energia quando comparada com a obtida na metabolização do açúcar na ausência de oxigénio.
Resumindo: o aumento do dióxido de carbono (CO2) e do ácido carbónico no corpo, até um determinado limite saudável, promovem os seguintes efeitos:
· Aumento da transferência de oxigénio dos pulmões para o sangue pela broncodilatação;
· Aumento do afluxo sanguíneo ao coração e cérebro pela vasodilatação;
· Aumento da libertação do oxigénio da hemoglobina para as células do corpo pelo efeito de Bohr;
· Aumento da calma no sistema nervoso pelo efeito do ph nos nervos;
· Diminuição da fome pelo efeito do ph no desejo por comidas ácidas.
Esta última nem encomendada! Que melhor motivo para pormos o praticante e o professor de yoga mais apegado ao aspecto físico da prática a fazer prāṇāyāma. É verdade! No que toca à dieta, é dito que a prática regular de prāṇāyāma diminui um desejo por comidas ácidas. E quais são elas? alimentos altamente proteicos, grãos, produtos animais e comida processada. Por conta disso, quem pratica parece ser mais facilmente saciado com comida mais alcalina como frutos, saladas e vegetais.
Quer libertar-se do gosto por bolachinhas, batatinha frita e outros? É aqui mesmo: faça prāṇāyāma!
[1] Efeito de Bohr designa tendência do oxigénio para deixar a corrente sanguínea quando a concentração de dióxido de carbono aumenta. Essa tendência facilita a liberação de oxigénio da hemoglobina para os tecidos e aumenta a concentração de oxigénio na hematose. Essa libertação de oxigénio aumenta sua disponibilidade para os tecidos. Este fenómeno fisiológico diz-nos que uma diminuição no Ph do sangue (mais acidez e menos alcalino) ou um aumento no sangue da concentração de CO2 faz com que a hemoglobina nos glóbulos vermelhos liberte o oxigénio nas células do corpo. O CO2 reage com a água para formar o ácido carbónico.
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