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Teachings

O propósito do Hatha Yoga
Miguel Homem
Also available in english
22-11-2008


 

            Aonde se propõe chegar o Hatha Yoga? A Hatha Yoga Pradípiká diz-nos:

            “O Yogi Svátmáráma, depois de saudar solenemente a deidade e seu guru, estabelece, desde o início, que o ensinamento do Hatha Yoga é somente um meio para a realização do Rája Yoga.” (I-2)

 

E a Gheranda-Samhitá:

            “Curvo-me perante Ádíshvaráya que ensinou, no início, a ciência do Hatha Yoga, a ciência que representa o primeiro degrau da escada que leva à suprema altura do Rája Yoga.” (verso introdutório ao capítulo I)

 

            Ao ler estas passagens naturalmente surge a dúvida: será que o Hatha Yoga não estará à altura de outros Yogas? Será um Yoga menor? A passagem seguinte da Hatha Yoga Pradípiká pode esclarecer-nos:

            “Rája Yoga, samádhi, unmaní, manomaní, amaratava, láyá, tattva, shúnyashúnya, paramapáda, amanaska, advaita, niralámba, nirañjana, jívanmukti, sahaja e túrya são sinónimos.” (IV, 3-4).

           

            Esta passagem parece-me especialmente relevante por vários motivos. Em primeiro lugar ajuda-nos a compreender o sentido dos versos iniciais da Hatha Yoga Pradípiká e da Gheranda Samhitá. A referência ao Rája Yoga enquanto objectivo do Hatha é feita não em relação ao método, mas em relação ao fim, ao estado final a alcançar. Depois mostra-nos a identidade entre vários conceitos de estados que, à primeira vista, poderiam parecer distintos. Assim, Rája Yoga e samádhi são tidos como equivalentes. De entre os citados vejamos outros com maior interesse para o nosso estudo.

            Unmaní, manomaní são conceitos tipícos do nátha sampradáya e definem o estado de negação da mente (un-maní) ou posto de outro modo, o estado de consciência além da mente (mano-maní). Nomes diferentes para designar o que Patañjali apelidou de asamprajñáta samádhi ou nirvikalpa samádhi. Veja-se a Hatha Yoga Pradípiká (IV, 60-62).

            Tattva, a realidade, é uma composição do Vedánta mahávakhya Tat tvam asi, ou seja, uma das grandes afirmações das Upanishads, tu és aquilo, a identidade entre o jíva e Brahman. “Eu sou Brahma, Eu não sou mais nada, Brahma sou certamente Eu; Eu não participo da tristeza, Eu sou existência, consciência., felicidade, sempre livre, de uma só essência”, diz a Gheranda Samhitá (VII, 4), um dos textos clássicos do Hatha Yoga.

            Advaita, não dualidade, é o qualificativo da doutrina monista ensinada por ´´Adi Shankarachárya, segundo a qual existe apenas uma realidade independente e eterna, BrahmanBrahman é satyam, tudo o resto é mithyam. Brahman é absolutamente real, tudo o resto depende dele para a sua existência.

            Turíya, foi descrito na Mándukhya Upanishad (7) como o que está além dos três avasthás, vigília, sonho e o sono profundo, o átman. A consciência inerente aqueles estados, mas vista da sua própria perspectiva, sem referência a qualquer nome e forma (námarúpa), é chamada de turíya. Turíya é nome da pura consciência.

 

            Por aqui se percebe que a busca o Hatha Yoga é também a busca do conhecimento Aham Brahma’smi, Eu sou Brahman, e que as suas técnicas mais não buscam do que esse conhecimento.

“Somente o Conhecimento (Jñána) é eterno. Ele não tem início nem fim. Não existe nada fora ele. A aparente diversidade do mundo é resultante da limitação dos sentidos. Quando esta limitação desaparece, apenas o Conhecimento, e somente ele, resplandece.” Shiva Samhitá (I,1).

 

goraka1           

            Deixo por fim, esta passagem do Gorakshabodha, um texto atribuído a Gorakshanátha na forma de diálogo entre este e o seu mestre Matsyendranátha[1]:

            “Gorakshanátha: Como pode alguém alcançar o samádhi? Como pode alguém libertar-se dos factores perturbadores? Como pode alguém adquirir turíya? Como pode alguém tornar o seu corpo imutável e imortal?

            Matsyendranátha: O jovem entra em samádhi através da mente; ele liberta-se das perturbações através do alento vital? Ele adquire turíya através da atenção e conhecimento (jñána) e obedecendo e voltando-se para o Guru, ele alcança a imortalidade.” (67,68).

 



[1] A tradição do Sanatana Dharma associa a criação do Hatha Yoga a Matsyendranátha e ao seu discípulo Gorakshanátha.


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