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Teachings

Dez Questões Que As Pessoas Fazem Acerca Do Hinduísmo... e dez respostas fabulosas
Hinduism Today
15-06-2009


A mais profunda fé da humanidade é agora um fenómeno global. Estudantes, professores, vizinhos e amigos têm muitos questões. Conceções erradas dissiminam-se sem controlo. Aqui estão dez respostas refletidas que pode usar para acabar com os mal entendidos.

Alguma vez foi encostado à parede com uma questão provocativa sobre Hinduísmo, até mesmo uma que realmente não deveria ser tão difícil de responder? Se sim, não está sozinho. Requer uma boa preparação e algum ajuste de atitude para confiantemente dissipar dúvidas sobre a sua fé sejam de colegas de trabalho amigáveis, estudantes, transeuntes ou, especialmente, de evangelistas Cristãos. Na primavera de 1990, um grupo de adolescentes de Hindu Temple of Greater Chicago, Lemont [E.U.A.], enviou um pedido a Hinduism Today para “respostas oficiais” a nove questões que lhes eram frequentemente feitas pelos seus colegas. Estas questões tinham causado perplexidade na própria juventude Hindu; e os seus pais não tinham respostas convincentes. Satguru Sivaya Subramuniyaswami abraçou o desafio e providenciou as respostas seguintes às nove questões. Lendo compenetradamente a lista para esta edição da revista, pensamos ser crucial adicionar uma décima questão sobre castas, já que, é a mais implacável crítica que o Hinduísmo enfrenta hoje em dia.

Vamos começar com conselhos sobre a atitude a ter quando responder Primeiro, pergunte-se, “Quem está a fazer a pergunta?” Milhões de pessoas estão sinceramente interessadas no Hinduísmo e nas muitas religiões asiáticas. Então, quando lhe perguntarem sobre Hinduísmo, não seja defensivo, mesmo se quem questiona parece confrontador. Invés disso, assuma que a pessoa quer realmente aprender. Claro que, alguns apenas querem perturbar, irritar e convertê-los à sua visão. Se você sentir que é esse o caso, sinta-se à vontade para sorrir e cordialmente retirar-se sem qualquer tentativa em responder, a fim de não acrescentar gasolina às suas chamas.

Com tudo isso em mente, é melhor nunca responder de uma forma muito ousada ou imediata a uma questão sobre religião. Isso pode levar a confrontação. Ofereça um prólogo primeiro, depois retorne à questão, guiando o inquiridor ao entendimento. O seu raciocínio e ponderação conferem a garantia de que você sabe do que está a falar. Também lhe dá um momento para pensar e extrair do seu saber intuitivo. Antes de aprofundar uma resposta, pergunte sempre ao inquiridor qual a sua religião. Sabendo isso, poderá dirigir-se ao seu modo de pensar particular e tornar a sua resposta mais relevante. Outra dica: tenha confiança em si mesmo e na sua habilidade em dar uma resposta significativa e educada. Mesmo dizendo “Peço desculpa. Eu ainda tenho muito a aprender sobre a minha religião e ainda não sei a resposta a isso” é uma resposta significativa. A honestidade é sempre apreciada. Nunca receie admitir aquilo que você não sabe, pois isso confere credibilidade àquilo que você sabe.

Aqui estão quatro prólogos que podem ser usados, de acordo com a situação, antes de verdadeiramente responder uma questão. 1) “Fico muito contente por você estar interessado na minha religião. Talvez você não saiba que uma em cada seis pessoas no mundo é Hindu.” 2) “Muitas pessoas me perguntaram sobre a minha tradição. Eu não sei tudo, mas tentarei responder as suas questões.” 3) “Primeiro, saiba que no Hinduísmo não é somente importante a crença e o entendimento intelectual. Os Hindus colocam maior valor na experiência pessoal destas verdades.” 4) O quarto tipo de prólogo é repetir a questão para perceber se a pessoa realmente declarou aquilo que quer saber. Repita a questão nas suas próprias palavras e pergunte se entendeu a sua pergunta corretamente. Se for uma questão complicada, pode começar por dizer, “Filósofos passaram vidas inteiras a discutir e refletir questões como essa, mas eu farei o meu melhor para explicar.”

Tenha coragem. Fale a partir da sua mente interior. Sanatana Dharma é um caminho prático, não um dogma, e assim a sua experiência em responder questões irá ajudá-lo no seu próprio progresso espiritual. Você irá aprender pelas suas respostas se escutar a sua mente interior falar. Isto pode até ser bastante divertido. O professor atento aprende sempre mais que o aluno.

Após o prólogo, aborde a questão sem hesitação. Se a pessoa é sincera, você pode perguntar, “Tem mais alguma questão?” Se ela quiser saber mais, então elabore o melhor que puder. Use exemplos fáceis, do dia a dia. Partilhe aquilo que almas iluminadas e as escrituras do Hinduísmo disseram sobre o assunto. Lembre-se, não podemos assumir que todos os que perguntam sobre Hinduísmo sejam insinceros ou estejam a desafiar a nossa fé. Muitos estão apenas a ser amistosos ou a fazer conversa para o conhecer. Então não fique à defesa nem leve isso muito a sério. Sorria quando der a sua resposta. Seja aberto. Se a segunda ou a terceira questão é sobre algo que você não sabe, você pode dizer, “Eu não sei. Mas se você está realmente interessado, eu descubro, envio-lhe alguma literatura por correio ou empresto-lhe um dos meus livros.” Sorria e tenha confiança enquanto dá estas respostas. Não seja tímido. Não existe questão que possa ser posta nos karmas do seu nascimento que você não possa responder com uma agradável resposta que satisfaça totalmente o buscador. Desta forma, pode fazer amigos para toda a vida.

Cada uma das dez explicações está organizada com uma curta resposta que pode ser memorizada, uma resposta mais longa, e uma explanação detalhada. Muitos inquiridores ficarão satisfeitos com a resposta curta e simples, por isso comece com essa primeiro. Use a explanação como informação de fundo para si mesmo, ou como uma resposta de contingência em caso de uma discussão filosófica mais profunda. Recursos adicionais aqui.

 


 



1. Porquê que o Hinduísmo tem tantos Deuses?



Todos os Hindus acreditam num Deus Supremo que criou o universo. Ele permeia tudo. Ele criou muitos Deuses, seres espirituais altamente avançados, para serem os Seus ajudantes.

Contrariamente às conceções erradas comuns, todos os Hindus veneram um Ser Supremo, apesar de usarem nomes diferentes. Isto porque os povos da Índia com línguas e culturas diferentes entenderam o único Deus à sua maneira. Ao longo da história surgiram quatro denominações Hindus principais – Saivismo, Shaktismo, Vaishnavismo e Smartismo. Para os Saivitas, Deus é Siva. Para os Shaktas, a Deusa Shakti é suprema. Para os Vaishnaivas, o Senhor Vishnu é Deus. Para os Smartas – que vêem todas as Deidades como reflexo do Único Deus – a escolha da Deidade é deixada ao devoto. Esta perspectiva liberal Smarta é bem conhecida, mas não é a visão Hindu predominante. Devido a esta diversidade, os Hindus são profundamente tolerantes com as outras religiões, respeitando o facto que cada uma tem o seu próprio caminho para com o Deus único.

Um dos entendimentos particulares no Hinduísmo é que Deus não está lá longe, a viver num céu remoto, mas dentro de cada alma, no coração e na consciência, à espera de ser descoberto. Este entendimento que Deus está sempre connosco dá-nos esperança e coragem. Conhecer o Grande Único Deus desta forma íntima e experencial é a meta da espiritualidade Hindu.

Elaboração: O Hinduísmo é tanto monoteísta e henoteísta. Os Hindus nunca foram politeístas, no sentido que existem muitos Deus iguais. Henoteísmo (literalmente “um Deus”) define melhor a visão Hindu. Significa a veneração de um Deus sem negar a existência de outros Deuses. Nós Hindus acreditamos no todo penetrante Deus que energiza o universo inteiro. Podemos vê-Lo no brilho dos olhos dos humanos e de todas as criaturas. Esta visão de Deus existindo em todas as coisas e dando-lhes vida é chamada de panenteísmo. É diferente de panteísmo, que é a crença que Deus é o universo natural e nada mais. É também diferente do teísmo estrito que diz que Deus está acima do mundo, afastado e transcendente. Pananteísmo é um conceito que abarca tudo. Diz que Deus está no mundo e para além dele, tanto imanente como transcendente. Esta é a mais alta visão Hindu.

Os Hindus também acreditam em muitos Deuses que realizam várias funções, como executivos numa grande corporação. Estes não devem ser confundidos com o Deus Supremo. Estas Divindades são seres altamente avançados que têm tarefas e poderes específicos – não diferentes de espíritos celestiais, soberanos ou arcanjos reverenciados noutras fés. Cada denominação venera o Deus Supremo e o seu panteão de seres divinos.

O que é, por vezes, confuso aos não-Hindus é que os Hindus de várias seitas podem chamar o Deus único por diferentes nomes, de acordo com a sua denominação ou tradição regional. A verdade para o Hindu tem muitos nomes, mas isso não implica muitas verdades. O Hinduísmo dá-nos a liberdade de aproximar-mo-nos de Deus à nossa maneira, encorajando a multiplicidade de caminhos, sem pedir a conformidade a apenas um.

Existe muita confusão acerca deste assunto, até mesmo entre Hindus. Aprenda os termos certos e as sutis diferenças neles, e poderá explicar as formas profundas de como os Hindus vêem a Divindade. Os outros irão deleitar-se com a riqueza dos conceitos indianos de Deus. Você poderá querer mencionar que alguns Hindus acreditam apenas na Realidade Absoluta sem forma como Deus; outros acreditam em Deus como o Senhor pessoal ou Criador. Esta liberdade faz do entendimento de Deus no Hinduísmo, a mais velha religião praticada ainda hoje, a mais rica fé de todas existentes na Terra.


2. Os Hindus acreditam na reencarnação?



Sim, acreditamos que a alma é imortal e que nasce uma e outra vez. Através deste processo, temos experiências, aprendemos lições e progredimos espiritualmente. Finalmente, concluímos os nascimentos físicos.

Encarnar significa “da carne”, e reencarnar significa “reentrar a carne.” Sim, os Hindus acreditam na reencarnação. Para nós, explica a forma natural como a alma progride da imaturidade à iluminação espiritual. Vida e morte são realidades para todos nós. O Hinduísmo acredita que a alma é imortal, que nunca morre, mas que habita um corpo após o outro na Terra durante a sua viagem evolutiva. Assim como a transformação da lagarta em borboleta, a morte física é a transição mais natural para a alma, que sobrevive e, guiada pelo karma, continua a sua longa peregrinação até ser una com Deus.

Pessoalmente, tive muitas vidas anteriores a esta e suponho vir a ter mais. Finalmente, quando tiver tudo solucionado e todas as lições aprendidas, atingirei a iluminação e moksha, libertação. Isto significa que eu ainda existirei, mas que não serei mais trazido de volta a nascer num corpo físico.

Até a ciência moderna está a descobrir a reencarnação. Tem havido muitos casos de indivíduos a lembrarem-se das suas vidas passadas. Estas foram investigadas por cientistas, psiquiatras e parapsicólogos durante as últimas décadas e documentadas em bons livros e vídeos. Crianças pequenas falam de memórias vívidas de vidas passadas, que desvanecem com o seu envelhecimento, à medida que o véu da individualidade envolve o entendimento intuitivo da alma. Místicos notáveis falam das suas vidas passadas também. Assim também as nossas escrituras antigas, os Vedas, revelam a realidade da reencarnação.

Jainistas e Siques acreditam na reencarnação, assim com os índios das Américas, os Budistas, algumas seitas Judaicas, Pagãos e as muitas fés indígenas. Até mesmo o Cristianismo originalmente ensinou a reencarnação, mas renunciou-a formalmente no século XII. Na realidade, é um dos artigos de fé mais transversais no planeta Terra.

Elaboração: Após a morte a alma deixa o corpo físico. Mas a alma não morre. Continua a viver num corpo sutil chamado corpo astral. O corpo astral existe na dimensão não física chamada plano astral, que é também o mundo em que nos encontramos durante os nossos sonhos quando dormimos. Aqui continuamos a ter experiências até renascermos de novo noutro corpo físico como um bebé. Cada alma reencarnada escolhe uma casa e uma família que possam providenciar da melhor maneira o seu próximo passo de aprendizagem e amadurecimento.

Após muitas vidas seguindo o dharma, a alma está totalmente amadurecida em amor, sabedoria e conhecimento de Deus. Não existe mais a necessidade de um nascimento físico, pois todas as lições foram aprendidas, e todos os karmas realizados. Essa alma é então liberada, liberta do ciclo de nascimento, morte e renascimento. A evolução então continua nos mundos espirituais mais refinados. Da mesma forma, após termos terminado o ensino básico não temos nunca mais que voltar à quarta classe. Nós ultrapassamos esse nível em conhecimento. Assim, a meta suprema da vida não é o dinheiro, nem roupas, nem sexo, nem poder, nem comida nem nenhuma outra das necessidades instintivas. Estas são buscas naturais, mas o nosso propósito real nesta Terra é conhecer, amar e servir Deus e os Deuses. Isso leva aos raros e inestimáveis objetos da vida: iluminação e libertação. Esta visão Hindu da evolução da alma responde muitas questões desconcertantes, remove o medo da morte enquanto assegura que cada alma está a evoluir em direção ao mesmo destino espiritual, já que, o Hindu acredita que o karma e a reencarnação levam cada alma à realização de Deus.



3. O que é o karma?



Karma é o princípio universal de causa e efeito. As nossas ações, tanto boas como más, voltam para nós no futuro, e ajudam-nos a aprender as lições da vida e a tornar-mo-nos pessoas melhores.

Karma é uma das leis naturais da mente, assim como a gravidade é uma lei da matéria. Assim como Deus criou a gravidade para trazer ordem ao mundo físico, Ele criou o karma como um sistema divino de justiça que é auto-governante e infinitamente justo. Automaticamente cria a experiência futura apropriada em resposta à ação atual. Karma simplesmente significa “ação” ou “causa e efeito.” Quando alguma coisa, aparentemente desafortunada ou injusta, nos acontece não é Deus que nos está a castigar. É o resultado das nossas próprias ações passadas. Os Vedas, as escrituras reveladas do Hinduísmo, dizem-nos que se semearmos bondade iremos colher bondade; se semearmos maldade, iremos colher maldade. Assim nós criamos o nosso próprio destino através de pensamento e ação. E a lei divina é: qualquer que seja o karma que estejamos a experienciar na nossa vida é apenas aquilo que necessitamos no momento, e nada pode acontecer a não ser aquilo para o qual nós temos forças para enfrentar. Até mesmo karma adverso, quando enfrentado com sabedoria, pode ser o maior catalisador para o crescimento espiritual. Entendendo a forma como o karma funciona, nós buscamos viver uma vida boa e virtuosa através do pensamento correto, do discurso correto e da ação correta. A isto chama-se dharma.

Elaboração: Karma é basicamente energia. Eu emito energia para fora através de pensamentos, palavras e ações, e volta para mim, a seu tempo, através das outras pessoas. Karma é o nosso melhor professor, pois nós temos sempre que enfrentar as consequências das nossas ações e assim melhorar e refinar o nosso comportamento, ou sofrer se não o fizermos. Nós Hindus olhamos para o tempo como um círculo, já que, as coisas são cíclicas. O professor Einstein chegou à mesma conclusão. Ele via o tempo como uma curva, e o espaço também. Isto iria eventualmente descrever um círculo. Karma é uma lei muito justa que, como a gravidade, trata todos por igual. Porque nós Hindus entendemos o karma, não odiamos ou ressentimo-nos com as pessoas que nos fazem mal. Nós entendemos que elas estão a dar de volta os efeitos das causas que acionamos previamente. A lei do karma coloca o homem no centro da responsabilidade de tudo o que faz e tudo o que lhe é feito.

Karma é uma palavra que ouvimos com regularidade na televisão. “Este é o meu karma,” ou “Deve ter sido alguma coisa que eu fiz numa vida passada que traz um karma tão bom até mim.” Ouvimos o karma a ser definido tão simplesmente como “O que vai, volta.” Nalgumas escola do Hinduísmo, o karma é visto como uma coisa má – talvez porque tenhamos mais consciência desta lei quando enfrentamos karma difícil, e menos consciência dela quando a vida corre facilmente. Até mesmo alguns Hindus equiparam o karma ao pecado, e isto é o que Cristãos evangélicos pregam ser. Muitas pessoas acreditam que karma significa “destino,” um destino pré-concebido sobre o qual não têm controlo, o que também não é verdade.

O processo de ação e reação em todos os níveis – físico, mental e espiritual – é karma. Aqui está um exemplo. Eu digo-lhe palavras amistosas, e você sente-se em paz e feliz. Eu digo-lhe palavras rudes, e você sente-se irritado e perturbado. A bondade e a rudeza irão retornar a mim, através dos outros, mais tarde. Isto é karma. Um arquiteto pensa de forma criativa e produtiva enquanto desenha a planta para um prédio novo. Mas, se ele tivesse pensamentos destrutivos e improdutivos rapidamente tornar-se-ia incapaz de realizar qualquer tarefa positiva, mesmo que o desejasse. Isto é o karma, uma lei natural da mente. Temos também que ter muito cuidado acerca dos nossos pensamentos, porque o pensamento cria, e os pensamentos fazem karmas – bons, maus e misturados.


4. Porquê que os Hindus veneram a vaca?



Os Hindus não veneram vacas. Nós respeitamos, honramos e adoramos a vaca. Ao honrar este gentil animal, que dá mais do que recebe, honramos todas as criaturas.

Os Hindus consideram sagradas todas as criaturas vivas – mamíferos, peixes, pássaros e mais. Nós reconhecemos esta reverência pela vida na nossa afeição especial pela vaca. Nos festivais nós decoramo-la e honramo-la, mas não a veneramos no sentido que veneramos a Divindade.

Para o Hindu, a vaca simboliza todas as outras criaturas. A vaca é um símbolo da Terra, a nutridora, a sempre doadora, a fornecedora sem exigências. A vaca representa a vida e o sustento da vida. A vaca é tão generosa, tomando para si nada mais que água, relva e grãos. Dá, dá e dá o seu leite, assim como a alma liberta dá o seu conhecimento espiritual. A vaca é tão vital à vida, o sustento virtual da vida, para muitos humanos. A vaca é um símbolo de graça e abundância. Veneração da vaca incute nos Hindus as virtudes da delicadeza, recetividade e conexão com a natureza.

Elaboração: Quem mais dá no planeta Terra hoje em dia? Quem vemos em todas as mesas em todos os países do mundo – pequeno-almoço, almoço e jantar? É a vaca. Os postos de venda de carne de vaca dos arcos dourados da MacDonald's e os seus rivais fizeram fortunas à custa da humilde vaca. A generosa vaca dá leite e nata, iogurte e queijo, manteiga e gelado, ghee e soro de leite. Dá-se totalmente através do lombo, costelas, alcatra, bife e guisado. Os seus ossos são a base de caldos e colas. Dá ao mundo cintos de pele, assentos em pele, casacos de pele e sapatos, salgadinhos, chapéus de cowboy – você escolhe. A única questão relacionada com vacas para os Hindus é, “Porquê que não existem mais pessoas a proteger e a respeitar esta extraordinária criatura?” Mahatma Gandhi disse uma vez, “É possível medir a grandeza de uma nação e os seus progressos morais pela forma como tratam os seus animais. Proteger a vaca, para mim, não é apenas a mera proteção da vaca. Significa proteger tudo aquilo que vive e é impotente e fraco no mundo. A vaca significa o inteiro mundo subhumano.”

Na tradição Hindu, a vaca é honrada, adornada com flores e alimentada de uma forma especial nos festivais em toda a Índia, especialmente, no festival anual Gopashtama. Demonstrando como encarecidamente os Hindus amam as suas vacas, joalharia colorida para vaca e vestuário é vendido em feiras por todo o campo indiano. Desde tenra idade que as crianças são ensinadas a decorar a vaca com guirlandas, pinturas e ornamentos. A sua natureza é resumida em Kamadhenu, a vaca divina, que concede desejos. A vaca e os seus presentes sagrados – leite e ghee em particular – são elementos essenciais na veneração Hindu, penitência e rituais de passagem. Na Índia, mais de 3,000 instituições chamadas Gaushalas, mantidas por instituições de caridade, cuidam de vacas velhas e enfermas. E embora muitos Hindus não sejam vegetarianos, a maioria respeita o ainda largamente mantido código de abstinência de carne de vaca.

Pela sua natureza dócil e tolerante, a vaca exemplifica a virtude cardinal do Hinduísmo, não violência, conhecida por ahimsa. A vaca também simboliza dignidade, força, resistência, maternidade e serviço abnegado.

Nos Vedas, as vacas representam riqueza e uma jubilosa vida terrena. No Rig Veda (4.28.1;6) lemos, “As vacas vieram e trouxeram-nos boa sorte. Nos nossos estábulos, satisfeitas, possam ficar! Possam trazer bezerros para nós, muito coloridos, dando leite para Indra todos os dias. Vocês fazem, Ó vacas, o homem magro elegante; ao desagradável vocês trazem beleza. Regozijem-se com a nossa propriedade com mugidos agradáveis. Nas nossas assembleias enaltecemos o vosso vigor.”


5. Os Hindus veneram ídolos?



Os Hindus não veneram um “ídolo” de pedra ou metal como Deus. Nós veneramos Deus através da imagem. Invocamos a presença de Deus, a partir dos mundos mais elevados e invisíveis, na imagem para que possamos comungar com Ele e receber as suas Suas bênçãos.

As imagens das divindades em pedra ou metal nos templos e altares Hindus não são meros símbolos dos Deuses. Elas são as formas pelas quais o seu amor, poder e bênçãos chegam a este mundo. Podemos comparar este mistério à nossa habilidade de comunicar com os outros através do telefone. Não falamos com o telefone; ao invés disso, usamos o telefone como um meio de comunicação com outra pessoa. Sem o telefone, não poderíamos conversar a longas distâncias; e sem o ícone santificado no templo, não podemos comungar facilmente com a Divindade. A Divindade também pode ser invocada e sentida num fogo sagrado, ou numa árvore, ou na pessoa iluminada de um satguru. Nos nossos templos, Deus é invocado no santuário por sacerdotes altamente treinados. Através da prática de yoga, ou meditação, invocamos Deus dentro de nós. Yoga significa unirmo-nos interiormente com Deus. A imagem ou ícone de veneração é um foco para as nossas orações e devoções.

Uma outra forma de explicar a veneração de ícones é reconhecer que os Hindus acreditam que Deus está em todo o lado, em todas as coisas, quer na pedra, madeira, criaturas ou pessoas. Então, não é surpreendente que eles se sintam confortáveis venerando o Divino na Sua manifestação material. O Hindu consegue ver Deus na pedra e na água, fogo, ar e éter, e dentro da sua própria alma. De facto, existem templos Hindus que não possuem nenhuma imagem no santuário interior a não ser um yantra, um diagrama simbólico ou místico. No entanto, a visão da imagem aumenta a veneração do devoto.

Elaboração: No Hinduísmo uma das últimas realizações acontece quando o buscador transcende a necessidade de toda a forma e símbolo. Esta é a meta do yogi. Desta forma, de todas as religiões do mundo, o Hinduísmo é a que menos se direciona a ídolos. Nem existe outra religião que use mais símbolos para representar a Verdade na preparação para essa realização.

Gracejando podemos dizer, os Hindus não são crentes ociosos [nt: idle]. Nunca vi um Hindu venerar de uma forma preguiçosa ou inerte. Eles veneram com grande vigor e devoção, com extrema regularidade e constância. Não há nada de ocioso nas nossas formas de veneração! (Um pouco de humor nunca faz mal.) Mas, claro, a questão é acerca das “imagens gravadas.” Todas as religiões têm os seus símbolos de santidade através das quais o sagrado flui para o mundano. Para nomear algumas: a cruz Cristã, ou estátuas de Maria e Santa Teresa, a sagrada Kaaba em Meca, a Sique Adi Granth instalada no Golden Temple em Amritsar, a Arca e a Tora dos Judeus, a imagem do Buddha em meditação, os totens das fés indígenas e Pagãs, e os artefactos dos homens santos e mulheres santas de todas as religiões. Tais ícones, ou imagens gravadas são tidas em reverência pelos seguidores das respetivas fés. A questão é, isto torna todos os religiosos veneradores de ídolos? A resposta é, sim e não. Da nossa perspetiva, veneração de ídolos é uma prática inteligente e mística partilhada por todas as grandes fés do mundo.

A mente humana liberta-se do sofrimento através do uso de formas e símbolos que despertam reverência, invocam santidade e sabedoria espiritual. Até mesmo um fundamentalista Cristão que rejeita todas as formas de veneração de ídolos, incluindo aquelas das igrejas Católica e Episcopal, iria ressentir-se se alguém mostrasse desrespeito pela sua Bíblia. Isto porque ele a considera sagrada. O seu livro e o ícone Hindu são muito parecidos neste sentido.



6. Os Hindus estão proibidos de comer carne?

Os Hindus ensinam o vegetarianismo como uma forma de viver que provoca o mínimo de dor para os outros seres. Mas no mundo de hoje nem todos os Hindus são vegetarianos.

A nossa religião não impõe rígidos “a fazer e a não-fazer.” Não há mandamentos. O Hinduísmo dá-nos a sabedoria para escolhermos por nós próprios o que colocamos no nosso corpo, já que, é o único que temos – nesta vida, pelo menos. Os vegetarianos são mais numerosos no Sul da Índia do que no Norte. Isto deve-se ao clima mais frio do Norte e à influência Islâmica do passado. Sacerdotes e líderes religiosos são definitivamente vegetarianos, para manterem um alto nível de pureza e consciência espiritual que lhes permite cumprirem as suas responsabilidades, e despertarem as áreas refinadas da sua natureza. Soldados e agentes da lei geralmente não são vegetarianos, porque têm de manter viva a sua força agressiva para executarem o seu trabalho. Para praticar yoga e ser bem sucedido na meditação, é imperativo ser vegetariano. É uma questão de sabedoria – a aplicação de conhecimento num dado momento. Hoje em dia, cerca de vinte por cento de todos os Hindus são vegetarianos.

Elaboração: Este pode ser um assunto sensível. Existem várias formas de responder, dependendo de quem pergunta e o cenário no qual ele surgiu. Mas o princípio sobrejacente que define a resposta Hindu a esta questão é ahimsa – abster-se de magoar, física, mental ou emocionalmente alguém ou qualquer criatura viva. O Hindu que deseja seguir estritamente o caminho da não-violência adota com naturalidade uma dieta vegetariana. É uma questão de consciência mais do que tudo o resto.

Quando comemos carne, peixe, aves e ovos, absorvemos a vibração das criaturas institivas no sistema nervoso. Isto altera quimicamente a nossa consciência e amplifica a nossa natureza inferior, que é propensa ao medo, raiva, inveja, confusão, ressentimento e outros sentimentos semelhantes. Muitos swamis Hindus aconselham os seguidores a serem vegetarianos convictos antes de serem iniciados em mantra, e a continuarem vegetarianos depois. Mas a maioria não insiste em vegetarianismo para aqueles que não buscam iniciação. Os swamis aprenderam que as famílias que são vegetarianas têm menos problemas do que aquelas que não são.

Citações acutilantes das escrituras aconselham não comer carne. O Yajur Veda (36.18) pede bondade em relação a todas as criaturas vivas na Terra, no ar e na água. O Tirukural, uma obra-prima da ética com 2,200 anos, declara, “Quando um homem se apercebe que a carne são os tecidos de outra criatura abatida, ele abster-se-à de a comer” (257). O Manu Dharma Shastras afirma, “Tendo considerado com atenção a origem da carne e a crueldade em agrilhoar e abater seres corpóreos, que cada um se abstenha inteiramente de comer carnes,” e “Quando a dieta é pura, a mente e o coração são puros.” Para orientação neste e noutros assuntos, os Hindus contam também com o seu próprio guru, anciões da comunidade, a sua consciência e o seu conhecimento dos benefícios de se abster da carne e saborear uma saudável dieta vegetariana. Claro que, há bons Hindus que comem carne e Hindus não-tão-bons que são vegetarianos.

Hoje em dia, na América e na Europa milhões de pessoas são vegetarianas porque querem ter uma vida longa e ser saudáveis. Muitas sentem uma obrigação moral em afastar-se da mentalidade de violência que a ingestão de carne fomenta. Existem bons livros sobre vegetarianismo, como Diet for a New America. Existe também uma revista magnífica chamada Vegetarian Times. O livreto “How to Win an Argument with a Meat-Eater está online em: www.himalayanacademy.com/books/pamphlets/WinMeatEaterArgument.html.

7. Os Hindus têm Bíblia?


A nossa “Bíblia” é chamada de Veda. O Veda, que significa “sabedoria,” engloba quatro antigas e sagradas escrituras que todos os Hindus reverenciam como as palavras reveladas de Deus.

Assim como o Tao Te Ching Taoísta, o Dhammapada Budista, a Adi Granth Sique, a Tora Judaica, a Bíblia Cristã e o Alcorão Muçulmano – o Veda é o livro sagrado Hindu. Os quatros livros dos Vedas – Rig, Yajur, Sama e Atharva – incluem mais de 100,000 versos. O conhecimento transmitido pelos Vedas vai da devoção terrestre à alta filosofia. As suas palavras e sabedoria permeiam o pensamento, ritual e meditação Hindu. Os Vedas são a autoridade suprema na forma de escrituras sagradas para os Hindus. É dito que as suas partes mais antigas datam de 6,000 a.C., transmitidas oralmente ao longo da história e escritas em Sânscrito nos últimos milénios, tornando-as as maiores e mais antigas escrituras do mundo. Os Vedas abrem uma rara janela para a sociedade indiana antiga, proclamando a santidade da vida e a via para a unidade com Deus.

Elaboração: Durante séculos até hoje, os Vedas permaneceram sendo a força de sustentação e a doutrina respeitável, guiando os seguidores nos costumes de veneração, dever e iluminação. Os Vedas são o foco meditativo e filosófico de monges e um bilião de buscadores. As suas estrofes são cantadas de memória diariamente pelos sacerdotes e leigos como liturgia na veneração no templo e ritual doméstico. Todos os Hindus aceitam os Vedas de coração, no entanto, cada um extrai seletivamente, interpreta livremente e amplia abundantemente. Com o passar do tempo, esta lealdade teceu a variada tapeçaria do Dharma Hindu indiano.

Cada um dos quatro Vedas tem quatro secções: Samhitas (coleções de hinos), Brahmanas (manuais sacerdotais), Aranyakas (tratados da floresta) e Upanishads (discursos iluminados). Samhitas e Brahmanas afirmam que Deus é imanente e transcendente e prescrevem veneração ritual, mantra e hinos devocionais para estabelecer comunicação com os mundos espirituais. Os hinos são invocações ao Uno Divino e às Divindades da natureza, como o Sol, a Chuva, o Vento, o Fogo e a Madrugada – assim como orações para matrimónio, prole, prosperidade, concórdia, proteção, ritos domésticos e mais.

Aranyakas e Upanishads descrevem a viagem evolutiva da alma, providenciam treino filosófico yoguico e propõe a realização da unidade do homem com Deus como o destino de todas as almas. Hoje em dia, os Vedas estão publicados em Sânscrito, Inglês, Francês, Alemão e outras línguas. Mas, são as populares e metafísicas Upanishads que foram mais ampla e habilmente traduzidas.

Os Vedas aconselham: “Que não haja negligência com a Verdade. Que não haja negligência com o dharma. Que não haja negligência com o bem-estar. Que não haja negligência com a prosperidade. Que não haja negligência com o estudo e o ensino. Que não haja negligência com os deveres para com os Deuses e ancestrais” (Taittiriya Upanishad 1.11.1). “Unida a vossa determinação, unidos os vossos corações, que os vossos espíritos sejam um, que possam juntos residir em unidade e concórdia!” (Rig Veda 10.191.4). "Ali, onde não há escuridão, nem noite, nem dia, nem ser, nem não-ser, ali está O Auspicioso, sozinho, absoluto e eterno. Há o esplendor glorioso daquela Luz de quem no início brotou a antiga sabedoria” (Shvetashvatara Upanishad 4.18). "Usando como um arco a grande arma da Upanishad, dever-se-à colocar nele uma seta aguçada pela meditação. Esticá-lo com pensamento dirigido à essência Daquilo, penetrar Aquele não perecível como o alvo, meu amigo” (Mundaka Upanishad 2.2.3).


8. Porquê que muitos Hindus usam um sinal próximo do centro da testa?

O sinal usado na testa é um símbolo religioso. Representa visão divina e mostra que alguém é Hindu. Para as mulheres, é também um sinal de beleza.

O sinal usado entre os olhos ou no centro da testa é um sinal que alguém é Hindu. É chamado de bindi na língua Hindi, bindu em Sânscrito e pottu em Tamil. Antigamente, todos os homens e mulheres Hindus usavam estas marcas, e ambos usavam também brincos. Hoje são as mulheres que são mais fiéis em usar bindi.

O sinal tem um significado místico. Representa o terceiro olho da visão espiritual, que vê as coisas que os olhos físicos não conseguem ver. Os Hindus buscam despertar a sua visão interior através do yoga. O sinal na testa é um lembrete para usar e cultivar esta visão espiritual para entender e melhor perceber o funcionamento profundo da vida – ver as coisas não apenas fisicamente, mas também com o “olho da mente”. O bindi é feito de pó vermelho (chamado de sindur, tradicionalmente feito a partir de açafrão em pó e sumo fresco de lima), pasta de sândalo ou cosméticos

Para além do simples sinal, existem muitos tipos de marcas na testa, conhecidos como tilaka em Sânscrito. Cada marca representa uma seita particular ou denominação da nossa vasta religião. Temos quatro seitas principais: Saivismo, Vaishnavismo, Shaktismo e Smartismo. Hindus Vaishnavas, por exemplo, usam um tilaka em forma de v feito de argila branca. Tilakas elaborados são usados por Hindus principalmente em eventos religiosos, apesar de muitos usarem um simples bindi, indicando que são Hindus, até mesmo ao público em geral. Por estas marcas sabemos aquilo em que uma pessoa acredita, e assim sabemos como começar uma conversa.

Para as mulheres Hindus, o sinal na testa é também uma marca de beleza, não diferente do sinal negro que mulheres europeias e americanas usaram na bochecha. O bindi vermelho é geralmente um sinal de casamento. Um bindi negro é geralmente usado antes do casamento para afastar mau olhado. Como uma afirmação exótica de moda, a cor do sinal complementa a cor do sari da senhora. Bindis ornamentais são até usados por atrizes em espetáculos populares televisivos americanos.

Elaboração: Homens e mulheres de uma religião em particular querendo identificar-se entre si frequentemente fazem-no usando símbolos religiosos característicos. Muitas vezes estes são abençoados nos seus templos, igrejas ou sinagogas. Cristãos usam uma cruz num colar. Rapazes Judeus usam uma mala pequena em couro que contém passagens das escrituras sagradas, e o gorro chamado yarmulka. Homens Siques usam o seu cabelo num turbante. Em muitos países, as mulheres Muçulmanas cobrem a cabeça com um véu, chamado hajib.

Não se envergonhe em usar o bindi na sua testa nos Estados Unidos, Canadá, Europa ou noutro país do mundo. Use-o com orgulho. O sinal na testa irá distinguí-lo de todas as outras pessoas como uma pessoa muito especial, um hindu, um conhecedor de verdades eternas. Nunca será confundido como pertencente a outra nacionalidade ou religião. O sinal sagrado na testa é uma forma fácil de distinguir Hindus de Muçulmanos. E não se sinta intimidado quando as pessoas perguntam o que significa o sinal. Agora você tem muita informação para dar uma boa resposta, o que provavelmente conduzirá a mais perguntas sobre a sua venerável religião.

Para rapazes e raparigas, homens e mulheres, o sinal pode ser pequeno ou grande dependendo das circunstâncias, mas deverá sempre estar lá quando apropriado. Naturalmente, não queremos pavonear a nossa religião na cara dos outros. Reparamos que muitos homens e mulheres Cristãos escondem ou retiram as suas cruzes no mundo corporativo dos negócios. Alguma comunidades ou instituições não permitem qualquer uso de símbolos religiosos.


9. Os Deuses do Hinduísmo são realmente casados?

É verdade que Deus é geralmente descrito como casado nas nossas histórias tradicionais. No entanto, num nível filosófico mais profundo, o Ser Supremo e os Deuses não são nem masculinos nem femininos e então não são casados.

No hinduísmo popular de aldeia, Deus é representado como sendo masculino, e a energia de Deus, ou Shakti, é personificada como Sua esposa – por exemplo, Vishnu e Lakshmi. Nos templos Hindus, arte e mitologia, Deus é visto em todo o lado como o querido casal divino. Filosoficamente, no entanto, o aviso é sempre feito no sentido que Deus e a energia de Deus são Um, e a metáfora do inseparável casal divino serve apenas para ilustrar esta Unidade.

O Hinduísmo é ensinado em muitos níveis a muitas pessoas diferentes, e a pessoas sem instrução que não são capazes de entender filosofia elevada, o Hinduísmo é ensinado sob a forma de histórias. Porque o templo é o centro de toda a comunidade Hindu, e toda a gente está focada no templo e nos Deuses do seu interior, os Deuses são os protagonistas principais nestas histórias. Hindus que entendem a filosofia elevada buscam Deus no interior enquanto também veneram Deus nos templos. Pessoas simples procuram ser como um Deus, ou como uma Deusa. Estas narrativas, chamadas Puranas, há muito que são a base da dança, teatro e contos à volta do fogo em casa das crianças à medida que crescem. As histórias ilustram como uma família deve viver, como devem criar os seus filhos, e muito mais. Antes da imprensa escrita, haviam poucos livros, e o Hinduísmo era passado oralmente através das histórias e parábolas. Embora estas histórias de criança frequentemente violentas não devam ser perpetuadas, nelas se encontra muito do valor dos extensos escritos dos Puranas.

Elaboração: Aqueles que aprendem as mais elevadas filosofias Hindus sabem que os Deuses não são masculinos nem femininos. Aliás, atingir esse nível Deusificado de ser é uma das metas místicas do yoga. Isto é conseguido combinando as correntes femininas e masculinas, ida e pingala, na corrente espiritual, sushumna, no centro da coluna vertebral dentro de cada indivíduo

Os Hindus sabem que os Deuses não casam, que são completos em si mesmos. Esta unidade é demonstrada no ícone tradicional de Ardhanarishvara, Siva como metade homem e metade mulher, e no ensinamento que Siva e Shakti são um, que Shakti é a energia de Siva. Siva é encarecidamente amado como o nosso Pai-Mãe Deus. Todavia, género sexual e relações matrimoniais são do plano físico e emocional, ao passo que os Deuses existem num estrato que de longe ultrapassa estes níveis de vida. De fato também, a alma não é masculina nem feminina.

Alguns swamis modernos encorajam agora os devotos a não prestarem atenção a histórias Puránicas acerca dos Deuses, dizendo que estas não têm nenhuma relação com o mundo de hoje - que elas são capciosas e confusas e não deveriam ser mais ensinadas às crianças. Em vez disso, eles encorajam os seguidores a aprofundarem-se nas elevadas filosofias das Upanishads Védicas e nas realizações dos sábios Hindus.

Outras fés, por vezes, criticam a religião Hindu como sendo uma religião tipo banda-desenhada, e nós não deveremos contribuir na perpetuação dessa imagem passando adiante tais concepções erradas como o casamento dos Deuses. Outras religiões movem-se e ajustam-se com o tempo. O Hinduísmo tem que fazer o mesmo. Tem de oferecer respostas às questões sobre Deus, alma e mundo – respostas razoáveis, que possam ser compreendidas e aceites mesmo por uma criança, coerentes, sensíveis e estritamente de acordo com a escritura e tradição. Isto é necessário na era tecnológica, necessário para que o Hinduísmo seja uma religião do futuro, não do passado.

10. E quanto a casta e os intocáveis?


Casta é uma divisão hereditária da sociedade indiana baseada na profissão. A classe mais baixa, considerada intocável, sofre de discriminação e é mal tratada. Na Índia é ilegal discriminar, abusar ou insultar alguém com base na sua casta.

Casta [nt: caste], do português casta, significa “clã” ou “linhagem,” refere-se a dois sistemas dentro da sociedade Hindu. O primeiro é varna, a divisão da sociedade em quatro grupos: trabalhadores, pessoas de negócios, legisladores/agentes da lei e sacerdotes. O segundo é jati, as milhares de guildas ocupacionais cujos membros seguem uma única profissão. Membros de uma jati normalmente casam dentro da sua jati e seguem tradições associadas com a sua jati. Nas áreas urbanas muitas vezes dedicam-se a outras ocupações, mas ainda assim arranjam casamentos dentro da sua jati.

Riqueza, especialmente nas áreas urbanas, muitas vezes sobrepõe-se à casta. A industrialização e a educação mudaram muito o sistema jati da Índia eliminando ou mudando as profissões sobre as quais tinha sido originalmente baseado, e criando novas opções de emprego. As jatis estão a evoluir para funcionarem hoje menos como guildas e mais como grandes clãs de famílias próximas. No fundo estão o intocáveis, que realizam os trabalhos mais sujos e têm sofrido assim como os negros da América, que foram libertos da escravidão apenas à 138 anos. Leis fortes foram aprovadas na Índia para abolir a discriminação baseada na casta. Hindus modernos, com razão, lamentam os abusos feitos com base na casta e estão a trabalhar para acertar as contas. Como nos E.U.A., é uma tarefa difícil que irá levar décadas, especialmente nas aldeias.

Elaboração: Casta é, sem dúvida, o assunto que é mais usado para bater nos Hindus. É ensinado nas escolas ocidentais como o atributo definitivo, ou falha fatal, do Hinduísmo. Os intocáveis como um sistema formal choquam os ocidentais. Uma resposta que podemos dar é separar a estratificação social da discriminação racial/classes.

Primeiro assunto: estratificação social. A Índia é uma das sociedades mais antigas do mundo. Tem vindo a preservar uma continuidade cultural e religiosa durante milénios. A Europa, por outro lado, tem visto milénios de agitação. Ainda assim, apenas temos que regressar um pouco antes da revolução industrial do século XVII para encontrar um sistema social similar às castas. A sociedade europeia de então era formada pela elite proprietária de terras (incluindo a realeza, a casta hereditária mantida até hoje), mercadores, artesão e camponeses. Os artesão formavam guildas, organizações baseadas na profissão que funcionavam tanto como uniões fechadas e como monopólios comerciais. O legado das guildas permanece em apelidos ocidentais como Smith, um trabalhador metalúrgico. Não existia sistema público de educação, e cada geração aprendia em casa a ocupação familiar. Havia pouca mudança tecnológica, por isso os empregos eram estáticos. A industrialização e a educação pública alteraram (mas não destruíram) este sistema de classes no Ocidente, assim como hoje estão a mudar casta e jati na Índia.

Segundo assunto: discriminação racial/classes. A maioria dos indianos são alheios à extensão da discriminação atual no Ocidente. Na América, por exemplo, centenas de milhares vivem destituídos e sem abrigo nas ruas das cidades, como verdadeiros “intocáveis.” Cidades americanas segregam mais de acordo com a raça do que antes dos Movimento dos Direitos Civis dos anos cinquenta devido à “corrida branca” aos subúrbios. Americanos negros recebem penas mais pesadas que os Americanos brancos pelo mesmo crime. Muitos índios Americanos Nativos vivem no fundo da sociedade, empobrecidos e alcoólicos, em reservas índias sombrias. Esta resposta – podemos dizer “Tu também és” tipo de defesa – não significa que os Hindus não devam trabalhar com muito mais afinco para acabar com a discriminação de casta. Mas lembra os outros que nenhum país do mundo é já livre de discriminação racial.

 


 


Excerpted and translated by Gustavo Cunha from Hinduism Today, published by Himalayan Academy; copyright © 1979-2009 Himalayan Academy. All rights reserved. Website: http://www.hinduismtoday.com/. This material may not be reproduced in any form or sold without prior written permission by Hinduism Today.

Excerto da edição de Abril/Maio/Junho de 2004 da revista Hinduism Today: “Part 1: Ten Questions People Ask About Hinduism... and ten terrific answers” disponível aqui. Tradução para português pelo autor do blog http://yogavaidika.blogspot.com e publicação com a permissão de Hinduism Today.


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