A palavra no vedanta é o meio apropriado para adquirir o conhecimento de si mesmo. Este meio de conhecimento tem de funcionar adequadamente, da mesma forma que os olhos, para verem, não podem ter qualquer defeito.
A palavra é usada para conhecer o atma, uma vez que os órgãos de percepção, os sentidos, não são adequados. Para falar do sujeito que está por detrás destes órgãos de percepção, os próprios órgãos de percepção não funcionam, porque queremos conhecer um sujeito e não um objecto. Quando os órgãos de percepção são ineficazes, tudo o que parte deles como a dedução lógica e a inferência também ser torna ineficaz.
Resta, assim, a palavra, shabda. As palavras permitem o conhecimento, mas têm uma limitação, porque trazem um conhecimento indirecto. Regra geral, as palavras falam sobre algo que está distante de nós.
O preconceito em relação ao vedanta nasce da falta de compreensão do funcionamento das palavras como meio de conhecimento. Porque em todas as outras circunstâncias o objecto está longe de nós, existe a ideia de que primeiro temos de ouvir e depois meditar para nos unirmos ao objecto. Eu ouço falar sobre a Índia, depois tenho de ir e pisar a Índia. O mesmo se toma para o autoconhecimento, primeiro, ouço e depois sento para meditar e ver o atma.
No entanto, como o objecto de análise sou eu mesmo, não existe necessidade de ir atrás do objecto, porque não há objecto, sou eu. O entendimento ocorre e só ocorre quando eu escuto ou relembro, e não depende de nenhuma outra acção. Moksha não é o resultado de uma acção, na asti akrtah krtena (Mundaka Upanishad).
Neste caso, o objecto do conhecimento sou eu mesmo, atma, e a palavra da Upanishad é o meio de conhecimento, pramana. A natureza deste conhecimento, vastu tantra jñanam, é determinada pelo seu objecto, vastu. A natureza do objecto é atma que é brahman e o vedanta permite esse conhecimento, mas este atma, brahman, só pode ser conhecido como eu mesmo e não como outra coisa. Essa visão simplesmente acontece e o que fazemos é criar as condições adequadas para que o conhecimento tenha lugar.
Quando nos contam uma piada, quer a pessoa ria no momento, porque entendeu logo, ou ria mais tarde, porque só entendeu depois, a pessoa ri sempre da piada, daquele primeiro momento (shravanam). Às vezes, precisamos que nos repitam a piada ou de a relembrar até a entendermos (nididhyasana).
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