É dito nas Upanishads que o professor tem de ser um śrotryam, versado no ensino das escrituras e do sampradāya (tradição e método de ensino), e brahmaniṣṭham, que se conhece a si mesmo como brahman. parīkṣya lokān karmachitān brāhmaṇaḥ nirvedamāyād nāstyakṛtaḥ kṛtena tadvijñānārthaṁ sa gurumevābhigacchet samitpāṇih śrotriyaṁ brahmaniṣṭhaṁ. "Tendo examinado as experiências ganhas por acções feitas e pela meditação, possa a pessoa com discernimento descobrir o desapego. Mokṣa, o que não é criado, não pode ser ganho pela acção. Portanto, para ganhar o conhecimento de Brahman, com galhos para ritual na mão, deve ele ir a um professor que seja bem versado nas escrituras, tenha o conhecimento do método de ensino e tenha um conhecimento claro de Brahman." Muṇḍaka Upaniṣad, 1.2.12.
Parīkṣya é vichāra, examinar. Loka é a experiência, o que é experimentado. Qualquer experiência tem uma lacuna inerente. Isso traz uma indagação, um questionamento. Este vichāra faz-me examinar aquilo que realmente quero e aquilo que na prática acabo por seguir. Nem sempre aquilo de que vou atrás, o que procuro, é o que realmente quero. Às vezes busco uma coisa e vou atrás de outra. Muitas vezes aquilo que quero não está naquilo de que vou atrás. Isso é chamado viveka, discernimento. Deste discernimento nasce vairāgya, desapego, aqui chamado nirveda. Entendo que todos estes objectos, pessoas e experiências de que vou atrás não me vão ajudar de forma definitiva.
A natureza deste viveka é apontada - nāstkyakṛtaḥ, na asti akṛtaḥ kṛtena. Akṛtaḥ é aquilo que não é criado, mokṣa. Akṛtaḥ aponta para aquilo que existe, mas não é criado, nitya. Nitya é o permanente, o que está sempre presente e portanto não precisa de ser criado, não depende de uma acção, na asti kṛtena.
Se o que quero é o permanente, nitya vastu, se este nitya vastu, este sempre presente, não tem de ser produzido, então naturalmente as outras buscas pelo impermanente, anitya, perdem significado. Em relação ao karma existe uma atitude natural de desapego, de desinteresse. Então, nesta Muṇḍaka Upaniṣad o que sugere o mestre Aṅgiras ao estudante Śaunaka?
Se nitya vastu é akṛtaḥ, não tem de ser produzido, significa que é existente. Se existe aqui e agora, só não o reconheço porque desconheço este nitya vastu. Sou ignorante, ajñāni. Uma coisa existente, se é tida por nós, se somos nós mesmos, só passa despercebida por ignorância. Assim, Aṅgiras diz tad vijñānārtham, para conheceres este nitya vastu que tu és, encontra um professor e vai ter com ele - saḥ eva abhigacchet gurum. Śaṅkarāchārya no seu comentário ao verso esclarece, svātantrayena na kūryat, mesmo um estudioso não deve tentar entender o śāstra, por si mesmo.
Vou ter com um professor como? É dito samitpāṇiḥ, com galhos para o ritual. É uma indicação simbólica cujo significado implícito é de alguém que está disposto a servir o professor com bhakti e śraddhā, confiança, ou seja com um compromisso em relação ao professor e ao śāstra.
Quais devem ser as qualificações do professor? śrotriyam brahmaniṣṭham.
Śrotryam é aquele que é versado no śāstra, estudou o Veda, entendeu o seu significado e é capaz de ensinar outros de acordo com a metodologia. O problema é que quando não se sabe nada sobre o śāstra, não há como avaliar. Ou a pessoa já adquiriu algum entendimento para poder apreciar, ou tem de recorrer a alguém que seja, ele próprio, um conhecedor e possa dar uma referência.
Brahmaniṣṭham é aquele que está estabelecido na visão de si mesmo como brahman. Se śrotriyam pode ser difícil de identificar, brahmaniṣṭham é ainda mais. Śaṅkara dá nos uma indicação, brahmaniṣṭham é o compromisso com o conhecimento de brahman com exclusão de tudo o mais. Posso tomar brahmaniṣṭham no sentido de alguém que não tem outra busca, que tem niṣṭha, firmeza, nesta busca. Pode ser um sannyāsi, um renunciante, ou um gṛhasta, aquele que vive no mundo, com as suas relações sociais e familiares.
|