Quando falamos em vedānta aquilo a que nos referimos primeiro é às upaniṣads. As upaniṣads são a śruti, o Veda, são o vedānta. As upaniṣads são uma parte do Veda, a parte final que lida com o conhecimento de si mesmo, ātmā jñānam, e a libertação, mokṣa. Para a realidade de quem sou, as upaniṣads são o meio de conhecimento, o pramāṇam. A resposta à pergunta "quem sou eu?" não pode ser encontrada através dos meios de conhecimento comuns, através dos sentidos, da inferência ou da dedução.
O conhecimento pode ser directo ou indirecto, dependendo da proximidade do objecto de análise. Geralmente, o conhecimento directo é o resultado da percepção directa dos sentidos e o conhecimento indirecto é o resultado do testemunho, inferência, lógica e raciocínio.
Neste caso particular, o assunto do Veda está disponível para ser conhecido, mas apenas através do próprio Veda. Ou seja, este assunto é um assunto do Veda, sobre o qual apenas o Veda tem acesso e só o Veda pode falar. Parece ser radical! O que se quer dizer com isto é que sem o Veda, a visão que ele apresenta ser-nos-ía totalmente desconhecida. Não fosse o Veda não conheceríamos a resposta à pergunta "quem sou eu?", porque o que sou não é objecto da percepção dos sentidos ou inferência. Assim, a visão e a audição são usadas, assim como a inferência e a presunção que constituem o raciocínio, mas apenas para eliminar dúvidas e assimilar.
O Veda fala de aḍṛṣṭam, puṇyam, pāpam, svarga, novos nascimentos, palavras que trazem um conhecimento indirecto e portanto não verificável. Mas o Veda fala também sobre conhecimento directo, imediato da verdadeira natureza do ser humano. É que não existe uma regra que dite que as palavras apenas trazem conhecimento indirecto. No Veda, a verdadeira natureza deste eu, ātmā, é revelada e o que é revelado é evidente por si mesmo, aqui e agora. Quem sou eu não é um vazio. Eu não sou totalmente desconhecido de mim mesmo. Mas que este eu que conheço é livre de limitação, é brahman, isso é-me desconhecido.
Existe um só, livre de limitação, e esse já sou eu. Esta identidade que chamamos de jīva īśvara aikyam é o ensinamento. Este é o assunto do Veda. Que existe apenas uma realidade que é īśvara, que īśvara sou eu, é o assunto do Veda. No entanto, isto não é apresentado como uma teoria ou filosofia. É um conhecimento imediato, porque eu estou sempre presente. O eu sou livre de limitação é que não é conhecido e não existe possibilidade de ser conhecido a não ser que nos seja revelado e apontado. A resolução da aparente contradição e a assimilação do facto de que tudo o que está aí é um, não dual, é o ensinamento.
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