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Entrevista sobre o yoga no dia-a-dia com Goura Nataraj
Vitor Caruso
02-07-2008


1) Qual a relação que o yoga tem com nosso meio de transporte, nossa dieta, nosso consumo, nossa postura perante a vida e a realidade em geral? Acredita no yoga como um caminho de liberdade e na necessidade de observá-lo e estudá-lo sob essa perspectiva?

O yoga tem relação com a nossa vida como um todo. Os antigos yogis da Índia não faziam a separação que nós, homens modernos, costumamos fazer entre a prática de yoga e o restante de nossa vida. Yoga é uma perspectiva de vida, uma forma de enxergar a realidade que, naturalmente, muda a maneira que nos relacionamos com a natureza, os outros seres e nós mesmos. Esta perspectiva esta baseada na visão equânime, em sânscrito - sama darshinah. Precisamos urgentemente desenvolver tal visão. O mundo anseia por ela. A perspectiva da separação, que dispõe os homens uns contra os outros, e todos contra a natureza, só está trazendo problemas, cada vez maiores, que ameaçam a existência da vida humana neste pequeno planeta. Hoje em dia ainda vivemos num sistema em que as pessoas estão sendo julgadas pela capacidade de consumo que possuêm. Como manter as coisas sustentáveis se todo mundo quer ter um lap top, celular, carro, moto, i-pod etc ? O consumo se tornou meta de vida na sociedade moderna. E aqui não vale mais a distinção entre ocidente e oriente, pois na loucura e no fetiche do consumismo a globalização varre todas as distinções culturais locais.
Eu julgo extremamente necessário aplicarmos os ensinamentos do yoga nos problemas globais que enfrentamos no dia-a-dia. Precisamos parar de consumir tanto, de produzir tanto lixo, de matar tantos animais, de sujar as águas que nós mesmos nos banhamos e bebemos. Como não perceber a relação que existe entre as coisas todas? Graças a anestesia intelectual à qual estamos submetidos o mundo continua girando do mesmo jeito. Existem mecanismos de controle. A propaganda nos mantém ávidos pelo novo produto que chegará ao mercado. A mídia corporativa controla a informação que chega até nós. O yoga é um caminho de liberdade e todo aquele que anseie por trilhar este caminho deve estar disposto a questionar os seus próprios condicionamentos.

2) Qual é o papel do yogi neste contexto?

Despertar. Trabalhar entusiasticamente no seu sadhana, sua auto-disciplina. A partir do momento em que estamos comprometidos com a mudança pessoal, naturalmente irradiaremos novas energias em nosso meio-ambiente. Com a expansão de consciência que o yoga nos traz adquirimos maiores responsabilidades. Assim, se você se esforça para sua purificação, na limpeza do seu corpo e mente, por que não se dedicar igualmente na defesa da terra, da água e do ar, elementos dos quais dependem a vida de todos os seres?

3) Lembra de algum texto do yoga que fala sobre ecologia ou quais yamas e niyamas que posso relacionar com ecologia?

A Bhagavad Gita (5.18) afirma que o sábio vê com igualdade um brahmane, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorros. Ou seja, mesmo que perceba a diversidade que existe no mundo e até mesmo uma certa hierarquia entre os seres, o yogi reconhece a unidade que permeia toda esta multiplicidade. Ele é capaz de enxergar o atman, a consciência, presente em tudo.

Tudo no yoga está de acordo com os questionamentos ecológicos que estamos aqui propondo. A não-violência é o mais essencial. Não agredir os elementos da natureza. Precisamos perceber que a matança de animais, a monocultura agrícola, o uso irrestrito de combustíveis ´sujos´ para os meios de transporte são todas formas gravíssimas de violência, que as pessoas em geral não relacionam com a crise global em que vivemos.


4) Como você tenta aplicar estes valores na sua vida cotidiana e passar para os seus alunos?

Eu sou um defensor da inserção da bicicleta como meio de transporte urbano. Pra mim este é o modal de transporte baseado em ahimsa. Não polui, é silenciosa, faz bem ao espírito e ao corpo, te coloca em contato com o mundo, com a cidade, com as pessoas. O carro nos separa. Cria divisões artificiais. Acredito também que devemos questionar nossa dieta, nossos hábitos alimentares. O vegetarianismo é um passo importante para um yogi. Falo destas questões nas aulas, práticas e teóricas, acho que aos poucos a idéia vai começando a fazer sentido na mente das pessoas.

5) Me fale sobre seu engajamento em Curitiba sobre o movimento urbano e o plantio urbano. Como funciona?

Bom, eu faço parte de um coletivo chamado INTERLUX. Entre outras coisas temos nos dedicado a temas que possuêm uma relação direta com o espaço urbano, espaço que deveria ser de convivência, diálogo e debate, mas que em nossas cidade é mero trânsito, espaço para transitar, não para ficar. Duas propostas estamos desenvolvendo. Uma delas é com as bicicletas. Estimular as pessoas a utilizarem-na no dia-a-dia, para ir ao trabalho, aos estudos, às festas etc. Uma vez por mês os ciclo-ativistas se reunêm na BICICLETADA, uma manifestação não-violenta em prol da mobilidade limpa e contra a agressivdade dos automóveis. Aqui no Brasil já temos as Bicicletadas acontecendo em São Paulo, Curitiba, Floripa, Joinville, Rio de Janeiro, Aracaju e outras cidades mais. É algo bem divertido. Durante algumas horas, pelo menos, mostramos que a rua pode ser muito melhor utilizada. Basta o desejo de cada um de nós.

A outra ação é a JARDINAGEM LIBERTÁRIA, uma proposta de reflorestamento urbano, ocupação de espaços ociosos da cidade, plantio de ervas, frutas, flores, legumes e verduras aonde quer que seja, onde houver espaço disponível. Dá pra plantar no apartamento. Se você tem um jardim na sua casa, melhor ainda. Dá pra plantar também na rua. Girassóis vão muito bem. Você pode, se quiser, adotar algumas áreas da cidade. Plantar ali algumas sementes, uma árvore e cuidar do desenvolvimento da flora local.
Temos um blog sobre o tema - www.jardinagemlibertaria.wordpress.com
A idéia é provocar, instigar uma nova perspectiva da cidade. Que as cidades ganhem vida, sejam vibrantes e saudáveis. Que possamos respirar um ar puro, que tenhamos silêncio no dia-a-dia - isto é importante para a saúde mental de todos nós.

6) Me fale sobre as iniciativas que deram certo em Curitiba para estimular o uso da bicicleta?

Ainda não vi nenhuma. O poder público, de uma forma geral, não acordou pra solução do problema e continua dando preferência aos investimentos pros veículos motorizados individuais. Faltam ciclofaixas, ciclovias, estacionamentos para os ciclistas nos cinemas, escritórios, teatros, escolas etc. Curitiba passa uma imagem de cidade ecológica mas a realidade está longe disso, e pedalar nesta ´capital verde´ é um desafio tanto quanto em qualquer outra. Quero ver quando o trânsito parar por completo! Estamos quase lá. Foram vendidos no Brasil, somente no mês de abril de 2008, mais de 250 mil veículos. Nossas cidades não comportam tal frota. Mas tudo bem, a economia está crescendo e o povo consumindo! É isto o que importa, afinal de contas, no jogo político atual.

7) Existem pessoas que não fazem uso da bicicleta por morarem muito longe do trabalho ou até mesmo por falta de preparo físico, neste caso, quais seriam as alternativas mais viáveis? Carona solidária? Outros?

O transporte público deveria ser praticamente gratuito, subsidiado pelas empresas de combustível e pelos motoristas de carros. Esté na hora de mudar o paradigma. Imaginem cidades em que todos possam pedalar com segurança, que o transporte público seja honesto, silencioso, não-poluente, agradável. Carona solidária é ótimo também. Tudo o que favoreça o diálogo e a conviência sadia entre as pessoas deve ser estimulado. Acredito que o yoga deve tomar a frente nestes movimentos. As propostas do yoga para nossas vidas são extremamente revolucionárias. De vanguarda. Não devemos ficar parados observando passivamente a destruição da vida, que avança a passos largos pelo mundo todo. É dever de todo ser humano, especialmente daqueles que estão no caminho do yoga, iniciar a mudança.


Saiba mais em:

www.jardinagemlibertaria.wordpress.com

www.bicicletadacuritiba.wordpress.com

www.atmatattva.wordpress.com


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