A tradição do Sanatana Dharma associa a criação do Hatha Yoga a Matsyendranátha e ao seu discípulo Gorakshanátha. Apesar disso, são os próprios nátha yogís (cuja linhagem afirmam remontar a Shiva) que designam como Ádinátha, o primeiro e principal nátha. Nátha que significa literalmente “senhor” ou “Mestre” designa os yogís desta tradição.
O interessante desta linhagem é ser verdadeiramente eclética. Apesar da sua associação ao Hinduísmo e da essência Shaiva, as influências do Jainismo e do Budismo são grandes.
Os náthas estão ligados ao movimento Siddha que também permeia a tradição do Budismo Tibetano. Diz-nos Georg Feuerstein “Outro notável entre os siddhas foi o budista Nágárjuna, mestre de Tilopa, que por sua vez iniciou Náropa, que foi o guru de Marpa, que foi o instrutor do ilustre yogin e poeta Milarepa. A lista tibetana dos mahá-siddhas inclui vários nomes que os hindus também reconhecem.”[1]
Matsyendranátha, por exemplo, é identificado como uma encarnação de Padmapáni ou como o bodhisattva Avalokiteshvara da tradição do Budismo Tibetano. Avalokiteshvara é chamado de Lokanátha ou Lokeshvar que foi um grande yogí e terá dado origem ao conhecido mantra Om mani padme hum.
Existe uma inscrição nepalesa onde se pode ler “Os mestres dos yogís chamam-lhe Rei dos Peixes (literalmente Matsyendra); os devotos das deidades femininas chamam-lhe Shakti; Os Budistas chamam-lhe Lokeshvar. Todas as honras a este Ser cuja verdadeira forma é Brahman”[2] .
Matsyendranátha, também conhecido como Mínanátha, figura nas hagiografias tibetanas como um dos oitenta e quatro mahá-siddhas.
Gorakshanátha terá sido um monge Budista Vajráyana conhecido como Rámanavajra apresentado ao Shaivismo por Matsyendranátha e que ao tornar-se discípulo deste adoptou o nome de Gorakshanátha.
Embora o Budismo moderno não faça referência à kundaliní shakti, Buddha, ensinava sobre ela. De facto, num texto antigo chamado Lalitavistara, que conta a primeira parte da vida de Siddhártha encontra-se uma referência àquela potentia latente no ser humano. O texto enumera algumas práticas levadas a cabo por Siddhártha, algumas descritas pelo próprio.
A verdade é que também Buddha é identificado na Hatha Yoga Pradípiká (I-6) como um dos mahásiddhas que tendo conquistado o tempo por meio do Hatha Yoga, ainda residem no universo.
Mas as influências não se limitam ao Budismo. Aspectos Jainas também estão presentes. Ambos os filhos de Matsyedranátha, Nímnátha e Párasnáthapújá, são considerados santos Jainas.
Mesmo, dentro da sua origem Hindu e apesar da sua essência Shaiva, os nátha yogís também têm influência Vaishnava. A Gheranda-Samhita, por exemplo é um texto Vaishnava. Mesmo a Shiva Samhita, um texto Shaiva, enuncia como um dos meios para o sucesso fazer a kirtans para Vishnu (3.35).
Segundo algumas fontes Gorakshsanátha terá vivido antes do século VIII, mas outros colocam-nos mais tardiamente, no século IX ou X.
A vida de Gorakshanátha terá sido tão fabulosa e inspiradora para aqueles que com ele conviveram que a sua fama ultrapassou a do seu Mestre. Os seus seguidores ficaram conhecidos como Kánphata Yogís por referência ao costume de furaram as orelhas com enormes brincos. Os Gorakshnáthís seguem a tradição dos Náthas e dos oitenta e quatro Siddhas.
[1] A Tradição do Yoga, 2ª Edição, Editora Pensamento, 2001, S. Paulo, pags. 464.
[2] Georg Weston Briggs, Gorakhnáth and the Kánphata Yogís, 1ª Edição, reimpressão de 1998, Motilal Barnasidass, Delhi, India, pags. 231 e 232, nota de rodapé 7. |