O Yoga do $egredo
O Yoga já foi alternativo. Historicamente, no ocidente, o Yoga esteve ligado a contestação dos valores vigentes. Num estudo histórico sobre o Yoga, De Michelis diz que o primeiro ocidental a se dizer yogi foi o filósofo Henry Thoureu. Este construiu sua própria cabana e foi morar na mata, plantando a sua comida e vivendo apenas com os frutos de seu trabalho. Nesse período, negou-se a pagar impostos ao estado norte-america, pois não queria patrocinar a guerra que este país travava com os vizinhos mexicanos na briga por terras. Essa sua experiência na floresta é narrada no livro Walden e a Vida nos Bosques. Depois disso ele foi preso por sonegação e, indignado, escreveu “A desobediência Civil”. Um escrito pré-anarquista que contestava o poder do estado e valorizava a consciência individual. Depois de alguns anos, Gandhi usou este escrito para balizar sua política de revolução pacífica na luta pela independência da Índia.
Anos depois, nos Estados Unidos mesmo, toda uma geração Hippie teve não apenas o livro de Thoureau como inspiração, mas também a filosofia do Yoga como um meio alternativo ao American Way of Life. Hoje, esse estilo de vida espalhou-se pelo mundo e serve de modelo de desenvolvimento seguido pela maior parte das lideranças políticas dos países e como sonho individual de grande parte das pessoas que vivem no planeta.
E é dentro desse contexto que o Yoga floresce atualmente. Mas o Yoga que é praticado por grande parte das pessoas hoje, não é o Yoga dos Vedas, ou o Yoga de Patanjali, ou o Yoga da Hatha Yoga Pradipika. O Yoga praticado pelos sábios que deixaram o seu legado na Índia era preservado como uma jóia, era sagrado e guardado em segredo. O Yoga mais praticado hoje é o Yoga do “$egredo”. Para mim o filme “O $egredo” revela toda a pequenez americana através de uma linguagem da física quântica. Como enriquecer com o poder da mente, e com a força conceitual da Física Quântica. Detalhe, não se fala em construir um mundo melhor, mais harmônico ou mais pacífico com o poder das orações, mas sim, e apenas, a realização de desejos pessoais. Na verdade, nesse meio, a Física quântica está sendo tão banalizada e tão descaracterizada quanto o Yoga. Mas ambas se encontraram no ocidente e deram origem ao Yoga do “$egredo” ou Yoga Quântico.
O Yoga Quântico é in. Ele atrai cada dia mais adeptos, pois veio para resolver os dois problemas básicos da modernidade. Dois problemas quânticos: Quantiquecusta e Quantiquevouganhar.
Uma das meque práticas mais consumidas se resume ao seguinte: dois Oms, vynyasa, ego, uma respiração especial, sussurro, drishti, e um tapetinho suado ao fim. Fora isso, o resto vem. O problema é que o resto esperado que venha pelos praticantes é: um corpo melhor modelado, bem estar, longevidade, menos rugas, etc. No Yoga Quântico, na meditação, reflete-se sobre a diferença quântica entre o custo e o benefício da prática que pode ser, ao invés de tradicional, “traicional”. Pois o resultado esperado pode não vir, ou vir muito menos do que se esperava.
O Yoga do “$egredo” está em anúncios publicitários, em revistas de saúde e beleza, em filmes clichês norte americanos, na novela das oito. Neste Yoga o que importa é o que você pratica e não a pessoa que você é ou se tornou praticando. Esse Yoga é o Yoga de vitrine, o Yoga visual, que não tem força suficiente para chegar ao coração.
Em muitos países, este Yoga foi institucionalizado e submetido a regras e a fragmentações. Na América do Norte é descaradamente patenteado. Na Inglaterra é submetida ao Conselho de Esporte. No Brasil quase foi submetido ao Conselho Federal de Educação Física. Esse Yoga não é dos Rishis, de Patanjali, ou da humanidade. Esse Yoga é da pessoa que o pratica, que aprendeu com o professor-mestre dela, que é o maior e melhor de todos. Isso torna a pessoa que pratica esse Yoga, por tabela, a maior e a melhor de todas.
Mas o bom disso tudo é que muitas pessoas entram no Yoga do “$egredo”, dentro dele descobrem maravilhas e, a partir dele, chegam em outros Yogas que continuam sendo alternativos, transformadores. |