O que é a normose?
“É um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte. É algo patogênico e letal, executado sem que os seus autores tenham consciência da sua natureza patológica.” Pierre Weil.
A normose se inicia na infância quando tentamos ser alguém para agradar e satisfazer os nossos pais. Nesta tentativa surge o medo de não conseguir adequar a imagem que os pais tem de nós. Às vezes esse medo é tão grande e gera tanta pressão interna que explodimos e nos tornamos o oposto extremo do que nossos pais esperam.
Na tentativa de nos livrar deste medo, colocamos piercings, tatuamos o corpo, deixamos o cabelo crescer e embolar, usamos roupas estilo hippie ou indianas, rasgamos as roupas, fazemos de tudo na tentativa de livrar desse padrão de adequação que nos mesmo impomos para satisfazer nossos pais.
A normose evolui no meio social, onde o medo de ser excluído, de ser rejeitado pelo grupo, de não ser considerado normal ou de não ser visto como uma pessoa de bem no meio em que vive. Isto gera a necessidade de ser como os outros custe o que custar, sem escutar os próprios desejos.
Quando tomei a consciência em um determinado momento da minha vida que comer animais mortos, beber álcool e passar meus finais de tarde num barzinho era algo patogênico e decidi abandonar esses hábitos, consequentemente fui excluído daquele grupo.
Por um momento você se sente sozinho, em certos momentos eu mesmo acreditava que estava sendo “radical” demais, em outros momentos pensei que estava pirando.
Essa pressão é interna, onde nós mesmo cobramos em seguir aquele padrão para ser aceito pelo grupo.
Segundo o professor Pedro Kupfer: “Yoga também é liberdade. Libertar-se de condicionamentos e preconceitos.”
A liberdade depende de tomar consciência da normose e de suas causas e livra-se de seguir as normas sociais e fazer as ações de forma consciente. Seguir as normas cegamente é tornar-se escravo.
Yoga é aprender a ouvir a voz interior e realmente sermos nós mesmos, tomando consciência e refletindo sobre as nossas ações, precisamos conhecer a nós mesmos e fazermos as ações de forma consciente, nossa felicidade depende disso porque semear é opcional, mas colher é obrigatório.
Uma frase do Sai Baba define isso muito bem: “O que é certo é certo mesmo que ninguém faça, o que é errado é errado mesmo que todo mundo o faça”.
Estar adaptado a uma sociedade doente que se auto-destrói e destrói o planeta não é sinal de saúde.
Vejo em muito livros de auto ajuda mostrando o “$egredo” para ter um bom trabalho, de ser reconhecido pela sociedade, de ter relações sexuais agradáveis. Mas logo descobrimos que isso não é suficiente e que não constitui o propósito do ser humano.
Logo bate um vazio e descobrimos que precisamos de algo que tenha mais conhecimento e amor que ser apenas eu, o ego.
O Yoga é um caminho e ao mesmo tempo a união com o todo, desta forma nossas ações deixam de ser para o ego e passam a ser para o universo, Yoga é livrar-se da pergunta “o que eu ganho com isso ?“ e agir de forma que o universo seja beneficiado com as nossas ações.
Essa mudança requer esforço, dedicação e coragem porque temos medo de perder o ego, de perder tudo aquilo que foi construído no ambiente das relações familiares e sociais, em determinados momentos pensamos que estamos doidos, remando contra a maré.
Para concluir esse texto, convido você para uma prática para trabalharmos na remoção dos condicionamentos. Existe uma normose no Yoga onde o Yoga é ásana.
Considero este fato como uma normose porque é patológico, aceito pela maioria da sociedade e pelos meios de comunicação e provoca sofrimento e doença nos praticantes que fazem ásanas e pensam que estão praticando Yoga.
Acredito que todos nós professores e praticantes já ensinamos ou fizemos uma prática sem pranayama, sem ensinar os yamas e niyamas ou sem meditação. Agora eu sugiro que você dê uma aula ou faça uma prática de Yoga sem ásanas. Liberte-se! Descondicione!
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Para saber mais sobre o assunto recomendo a leitura do livro Normose – A patologia da normalidade, de Roberto Crema, Pierre Weil e Jean-Yves Leloup. Editora Verus.
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