Além do marco do Império Romano, muito além do aparecimento de Cristo, da próspera Civilização Egípcia e até mesmo da Mesopotâmia, havia já na Índia uma sofisticada civilização no vale do rio Sarasvati, hoje reconhecidamente com muito mais de 7000 anos. Era a cultura védica chamada Sanaatana Dharma. Um estilo de vida atemporal no qual a verdade eterna é o maior valor e a dedicação ao conhecimento desta verdade é priorizada. O estilo de vida é chamado Yoga, o conhecimento é passado de mestres a discípulos em diálogos chamados Upanishads. Esta verdade é livre do tempo e do espaço, palavras não podem defini-la. Seu ensinamento é através de palavras que a indicam e a seguir são negadas - manasaa eva anudrastvyam. Somente com a mente pode ser percebido. Yam manasaa na manute. É aquilo que a mente não pode pensar. É aquilo que é buscado por todos; e que deve ser compreendido como já alcançado! Este método vem sendo mantido numa linhagem sem interrupção de mestre-discípulo. O ser humano é o constante buscador de sua excelência. Sentindo-se constantemente inadequado, procura superar a si mesmo, ir além de sua experienciada limitação. É a busca denominada espiritual. A busca de superioridade é psicológica à medida que vislumbra-se uma vantagem em relação aos outros, um julgar-se melhor do que os outros, devido à consciência de limitação que é forte, dilacerante. Aparecem problemas para si mesmo na tentativa de se perceber superior, pois a inferioridade, a limitação, é evidente, ainda que muitas vezes não consciente. Cria-se então um excesso de opinião pessoal, um medo das diferenças, uma necessidade de criticar o outro e diferenciar-se. O foco na excelência não vê tanto o outro mas a si mesmo. De que maneira pode-se exceder a si mesmo, suas evidentes limitações, alcançando uma totalidade que ultrapassa a sensação de limitação - uma experiência de si mesmo, em si mesmo, de paz e plenitude, no silêncio pleno, onde descobre-se não separado do Universo. As limitações são percebidas como naturais ao mundo dual, pode-se crescer além delas, ou talvez isto não seja de imediato possível, mas a excelência é descoberta em si mesmo, o que possibilita uma acomodação do outro e do mundo, exatamente como são. Esta busca de excelência é o libertar-se da aparente limitação, é moksha, como nos apresenta os Vedas, a rica tradição que nos diz que esse libertar-se é possível ainda em vida. O estilo de vida para tornar possível esta excelência envolve um tornar-se consciente de bhaya-krodha-raaga, o medo a raiva e o apego. O libertar-se é para aquele que compreende clara e profundamente essas três expressões automáticas da mente e do corpo. Naturais pois são a expressão do que a ciência védica de saúde chama de vaata, Pitta, kapha em nosso corpo. Para aquele que se dá ao trabalho de perceber essas expressões e suas causas em si mesmo e portanto ter um comando possível sobre sua expressão, o libertar-se é possível pois este significa não uma negação de raaga-bhaya-krodha mas o viver harmônico livre de suas garras aprisionantes. viitaragabhayakrodhah sthitadhiirmunirucyate. Aquele que é livre de apego, medo e raiva e capaz de reflexão é firme no conhecimento do Ser, assim é falado. Bhagavadgita II, 56 Yoga é um estilo de vida, com a prática de asanas, pranayama, concentração, meditação, estudo do Ser que é absoluto e idêntico ao Criador e contemplação. Parte fundamental disto é o estar consciente das ações realizadas, dos acontecimentos diários, que vêm sem nosso desejo ou busca, e a atitude que mantemos nestas várias situações. E através desta atenção, ou melhor, desta disposição para estar atento, consciente, descobrir que cada um de nós faz parte deste todo que chamamos o Universo. Um estilo de vida falado em detalhes e a oportunidade do autoconhecimento fazem parte do Sanaatana Dharma, uma tradição especial disponível para todo aquele que a valoriza e deseja. |