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Ensinamento

Autoconhecimento
Glória Arieira
08-02-2007


Ao nascermos, nos deparamos com um mundo cheio de nomes e formas que determinam os limites e as diferenças aparentes entre objetos. A cada instante vivemos inúmeras experiências de prazer e desprazer e aprendemos a interpretá-las a partir de conceitos, valores e significados, que assimilamos dos outros e do ambiente em que vivemos.

Impulsivamente buscamos realizar os nossos desejos, repetindo experiências de prazer, e assim nos dizemos felizes; ou tentamos evitar sensações de desconforto e desprazer, que nascem da impossibilidade de realizar nossos desejos, e então nos dizemos infelizes.

Esse refúgio no conforto implica num afastamento da realidade interna (sentimentos, sensações, etc.) e externa, que são vividas como conflitantes, resultando numa percepção distorcida de nós mesmos e do mundo, ancorada numa série de tensões e resistências físicas e psíquicas. A partir dessas experiências e interpretações crescemos, construindo uma identidade, uma noção de eu diferente e separado dos outros, e esse eu, por sua vez, torna-se o sujeito que julgará a si mesmo e as situações.

Assim, a vida é vivida sob a constante tensão de nos sentirmos inadequados, desejosos sempre de algo diferente. Sempre imaginamos que alguém, diferente de nós, é feliz, vivendo com confortos. Isso acontece por valorizarmos e termos fantasias com relação ao que o outro possui. Sob essa ilusão, ninguém é completamente feliz. A única diferença é que alguns são infelizes com confortos e outros infelizes sem confortos. Todo mundo deseja ser diferente do que é ou que o mundo seja diferente do que ele é. Este problema é comum a todos os seres humanos.

Solucionar este problema é o objetivo da vida. Não se pode permanecer indiferente a ele. Através das várias experiências que temos em nossa vida, alcançamos uma maturidade para reflexão. Este é o grande momento, quando não somente vivemos em busca de confortos e prazeres, mas também analisamos o que desejamos com nossas aquisições. O mero acúmulo de objetos não produz felicidade. A insatisfação da mente não se resolve, satisfazendo todos os desejos.

O ser humano possui a capacidade de discernimento, o intelecto, e está consciente de si mesmo e do mundo ao redor. Diferente neste aspecto dos animais, que são governados por instintos, o homem possui a grandeza de ser consciente de si mesmo. Porém o eu, do qual está consciente, não lhe parece completo, nem adequado. Infelizmente ele se sente um ser inadequado e incompleto. E este ser incompleto, o único conhecido, cria o constante desejo de ser diferente, através de mudanças na vida. Não existe problema algum em desejar e causar mudanças na vida. Aliás, as mudanças não podem ser evitadas; a vida é um processo de constante mudança. O problema é a expectativa que existe na mudança. A expectativa é de que, produzindo uma nova situação em nossa vida ou modificando nosso passado, estaremos mais adequados, mais completos. Tentamos fazer algo, não pela ação ou pela mudança, mas para sermos felizes, para eliminarmos a insatisfação. Em todas as mudanças que procuramos realizar em nossas vidas, o que buscamos é uma mudança em nós mesmos. Buscamos estar bem em qualquer situação, estar completos, adequados, de forma que nenhuma situação possa nos perturbar.

Ao analisarmos, percebemos a teia das fantasias e dos erros de interpretação e julgamento na qual estamos emaranhados. O questionamento, a compreensão e a aceitação do mundo como ele é e o processo de eliminar os conflitos que nascem dessa ilusão são necessários para atingirmos uma mente clara e tranqüila. Esta mente clara e tranqüila é o que sempre estivemos procurando.

Yoga e Vedanta oferecem os meios para este despertar. Yoga é um conjunto de técnicas que visam o equilíbrio do indivíduo para que ele possa descobrir-se como ser completo. A descoberta deste ser completo, adequado em si mesmo, que não depende de situações para ser feliz, é o objetivo de Vedanta. Descobrir que existe uma busca fundamental por detrás dos vários desejos é a maturidade espiritual. É o despertar para o objetivo maior da vida, o conhecimento do ser pleno que sou eu.


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