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Ensinamento

Yoga Sútras, Sámadhi Páda, Sútra 2
Miguel Homem
27-11-2009


yogashcittavrttinirodhah || 2||
Yoga é a cessação das modificações da mente

 

            Comentário de Vyása:

            “Este sútra foi enunciado com a intenção de apresentar uma definição do Yoga:

[sútra] Yoga é a cessação das modificações da mente.

 Ao não incluir a palavra “todas” sugerindo “todas as modificações da mente” pretende significar que o samprajñáta (samádhi cognitivo) também está incluído no Yoga. A mente tem três disposições: iluminação (pra-khyá de sattva), actividade (pra-vrtti de rajas) e inactividade (sthiti de tamas) que leva à inferência que a mente é constituída dos três atributos (gunas).

            A natureza de sattva na mente é iluminação; em contacto com rajas e tamas procura supremacia, poder (aishvarya) e objectos de prazer. A mesma mente quando colorida apenas por tamas volta-se para a injustiça para (a-dharma), ignorância (a-jñána), falta de desapego (a-vairágya) e perda da sua supremacia (an-aishvarya).

            Novamente, quando a obscuridade provocada pela ilusão tiver sido diminuída na mente, esta volta a brilhar na sua completude e em todas as direcções; quando é permeada por uma medida de rajas volta-se para a virtude (dharma), conhecimento (jñána), desapego (vairágya) e supremacia (aishvarya)[1].

            Quando a impureza do último vestígio de rajas for eliminada, a mente estabelece-se na sua própria natureza. Este estado compreende apenas o discernimento da separação de sattva em relação à mente, a faculdade de discriminação (buddhi) de um lado, e o princípio de consciência de outro, assim atingindo o dharma-megha, o samádhi da nuvem de virtude e do conhecimento da natureza de todas as coisas.

            A consciência (chiti-shakti) é imutável, imóvel, não sujeita a transferência. Os objectos são-lhe mostrados enquanto ela mesmo é pura e infinita. O estado de discernimento entre buddhi e a consciência (chiti-shakti) tem a natureza de sattva e é um produto de sattva. Esta iluminação do discernimento, por ser assente num dos guŠas, é o oposto do princípio da consciência. Consequentemente, a mente que se tornou desapegada mesmo em relação a este discernimento, traz até aquele discernimento sob o seu controle. A mente neste estado é absorvida apenas nos samskáras. Este é o samádhi sem semente (nir-bíja). Aqui nada mais é conhecido, por isso é chamado de samádhi não cognitivo (asamprajñáta). Este Yoga, a cessação das modificações da mente, é por isso dual.”

 

            Patañjali define o Yoga utilizando o conceito de chitta. O que venha a ser chitta não é totalmente pacífico. Chitta não é um tattva específico da cosmogonia Samkhya. Alguns identificam-na como sendo o complexo manas-ahamkára-buddhi (pensamento-ego-intelecto e intuição). Outros consideram chitta como todo o espectro da mente somado ao complexo manas-ahamkára-buddhi e portanto todo o antahkarana (órgão interno).

            Formalismos à parte, chitta é o substracto de onde os vrttis surgem e onde a final se dissolvem. Sendo chitta uma evolução (parinama) de sattva, que é o aspecto mais puro de Prakrti, os vrttis são ainda uma parte dessa evolução. É o que nos sugere o comentário de Vyása. Seria o nirodha uma involução/dissolução desses vrttis?

            Vijñánabhikshu[2], no seu comentário a este sútra, diz-nos:

            “nirodha dos vrttis do sentido interno, constituído de quatro partes (antahkarana), significa a sua dissolução (laya), que é um estado particular do seu substrato, a mente. Este laya é Yoga. Não é a ausência de vrttis, porque isso não serve a ideia de um estado do substrato.”

            Lembrando o esquema de involução do Samkhya, essa dissolução prossegue até que, finalmente, os três gunas sejam absorvidos pela origem – Prakrti. E Patañjali diz-nos que o espectro da mente é constituído pelos três gunas.

            Vyása refere os atributos dos gunas. Sthiti que significa ao mesmo tempo a estabilidade e estagnação de tamas. Pra-vrtti, significando acção de rajas e pra-khyá ou khyáti de sattva, a iluminação ou conhecimento da realidade. No sampajñáta samádhi cessam os vrttis de rajas e tamas e o resultado é viveka khyáti, a discriminação entre buddhi e Purusha. Quando até os vrttis alimentados por sattva cessam e os gunas se dissolvem em Prakrti ocorre o asamprajñáta samádhi.

Assim, é importante que o sádhaka permaneça atento à presença dos gunas através do seu efeito, nomeadamente percebendo qual o guna predominante em cada momento. Partindo desta análise deve procurar estimular a influência positiva do guna que se mostre favorável ao momento. As várias técnicas do Yoga servem o propósito daquele estímulo. Esta análise reveste-se de particular importância no momento da meditação.



[1] Confrontar o 23º sútra do Samkhya-Káriká.

[2] Citado por Swami Veda Bharati, obra citada, pag. 96.


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