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Ensinamento

A Meditação na Tradição do Yoga
Miguel Homem
10-01-2010


            O ensinamento do Yoga é passado na forma tríplice de shravana, manana e nididhyásana, ou seja, ouvir o ensinamento, remover dúvidas sobre o que foi ouvido e contemplar o ensinamento.

            Shravanam deve ser feito por um período de tempo prolongado sob a orientação de um professor qualificado que seja um shrotrya e um brahmanishtha. Um shrotrya é alguém que tem o domínio dos shástras e da metodologia de ensino e brahmanishtha é o que está estabelecido na visão da verdade de si mesmo como Brahman.

            Mananam consiste no uso da razão e raciocínio para eliminar quaisquer dúvidas que a mente coloque sobre o ensinamento. A percepção de limitação que temos é necessariamente diferente da visão de nós mesmos – púrnah – que os shástras revelam e isso coloca obstáculos a que o ensinamento, e o conhecimento dele resultante, se estabeleçam. O conhecimento deve ser livre de qualquer dúvida para produzir os seus frutos e o papel de mananam é exactamente a remoção das dúvidas.

            No entanto, mesmo quando shravanam e mananam cumpriram o seu papel, pode surgir um último obstáculo, que é o dos padrões de pensamento habituais, que nos levam a repetir os mesmos pensamentos, acções e reacções, mesmo quando as suas lógicas de suporte caíram por terra. A contemplação do ensinamento que é o nididhyásana serve esse propósito de assimilação do conhecimento, eliminando os obstáculos emocionais e mentais que ainda possam estar presentes. O nididhyásana não traz nada de novo; não traz conhecimento, apenas permite assimilar o que já se conheceu por shravanam.

 

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            Por outro lado, a própria exposição ao ensinamento já requer do ser humano, alguma preparação – sádhanachatushtayam. Os textos chamam àquele que está preparado para ouvir o ensinamento, o adhikári, o estudante qualificado. Conforme já escrevemos noutro lado, o adhikári é aquele que é rico em viveka (discernimento), vairágya (desapego), shatkasampattih (as seis virtudes) e mumukshutvam (o desejo por libertação). Ora viveka, vairágya e mumukshutvam são nutridos por uma vida de karma yoga como tão bem Krshna nos ensina na Bhagavad Gítá

            Vejamos agora as seis virtudes, shatkasampattih, que são shama, dama, uparama, titiksha, shraddhá e samádhána, ou seja um comando sobre a mente (shama), sobre os órgãos externos (dama), realização do próprio dharma (uparama), paciência (titikshá), confiança no professor e no ensinamento (shraddhá) e concentração (samádhána). Estas virtudes são desenvolvidas, de uma forma geral, pelo upásana yoga, pela meditação.

 

            Dhyána, a meditação aparece, assim, na vida do yogí nestas duas facetas: upásana, como preparação para ouvir o ensinamento e nididhyásana, como assimilação do que foi ouvido.

 Diferentes propósitos, diferentes meditações

I

            O papel da meditação no sádhana espiritual deve ser claro, sob pena de não usarmos a meditação de forma apropriada. Se temos alguma coisa à nossa disposição e não a sabemos usar ou desconhecemos em que circunstâncias usá-la, torna-se inútil. Assim, o estudo da meditação por si mesmo é necessário para sabermos o que fazer com ela e onde colocar a prioridade.  

Antes de mais, deve ser claro que o objectivo é jñánam, como solução para o nosso problema, a ignorância. E que jñánam só se alcança pelo guru shástra upadesha, a instrução do shástra sob a orientação de um professor, através de shravanam. Por isso, o mais importante é ouvir o ensinamento e assim shravanam e o entendimento devem manter-se sempre como a prioridade, sem a qual, tudo o mais é inútil.

Dentro deste enquadramento vejamos então qual é o papel da meditação. Como se deixou dito, a meditação ocupa dois lugares, o primeiro antes do efectivo estudo do vedánta, em preparar a personalidade e o segundo, depois do vedánta shravanam. Este escutar do ensinamento não pode ser um estudo ocasional, mas um estudo efectivo, sistemático e profundo (shravanam e mananam). Neste passo, o papel da meditação é a assimilação do que foi entendido. O conhecimento emerge de shravanam e a meditação não visa, por si mesma, trazer conhecimento.

Importa também esclarecer que a meditação também não visa qualquer experiência mística ou misteriosa. Estas experiências não se coadunam com a visão védica. Essas experiências podem existir, e não são negadas, mas não desempenham qualquer papel na libertação (moksha) porque, mundanas ou místicas, não passam de experiências.

A meditação não serve, por isso, a aquisição do conhecimento, nem experiências místicas, mas sim serve a preparação e assimilação do estudo. Conforme se disse, a meditação como preparação chama-se upásana e como assimilação chama-se nididhyásana, contemplação. O Swami Dayananda distingue estas palavras, meditação e contemplação para marcar a diferença.

 


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