A acomodação é necessária em relação a pessoas, mas não em relação a ideias. Uma pessoa que tem crenças que na minha percepção são engraçadas, ou equivocadas, não deve deixar de poder ser meu amigo. O direito ao livre pensamento deve existir. Podemos e devemos acomodar a pessoa, mas não podemos acomodar as noções erradas.
Imaginemos agora que eu aponto para uma rosa e digo: “olhem para este papagaio”. Talvez alguém dê o benefício da dúvida e pergunte: “ele disse papagaio?!” Só damos o benefício da dúvida até verificarmos. Depois de confirmarmos, não podemos acomodar a minha noção errada. Não podemos acomodar porque o conhecimento da rosa não depende da nossa vontade. Não é purusha tantram jñánam. Nós não decidimos que isto é rosa ou papagaio. Se é uma rosa, é uma rosa. O conhecimento é sempre tão válido quanto o objecto é. Por isso não temos qualquer interferência no conhecimento. Isto resulta da tradição. A natureza do conhecimento foi analisada exaustivamente.
Se é uma acção temos uma escolha, podemos fazer, não fazer, fazer diferente, mas o conhecimento é tão verdadeiro quanto o objecto. Não há escolha, nem acomodação no conhecimento.
Importa também frisar que por um lado, não nos tornamos intolerantes quando afirmamos “aquilo é uma rosa e não um papagaio”. E por outro, também não podemos ser tolerantes com o que é equivocado. A tolerância existe em relação à pessoa, mas no que toca ao conhecimento não há tolerância ou intolerância; há verdade.
Assim, quando os mestres criticavam, criticavam apenas conceitos e não pessoas. Se era uma afirmação errada, era uma afirmação errada, independentemente de ser dita por um sábio ou um ignorante.
Examinar conceitos não é ser intolerante. A tradição védica é uma tradição de ensinamento. E sendo uma tradição de ensinamento, as escrituras são apresentadas na forma de diálogo. Naturalmente, existem questões porque o que está aí, está para ser compreendido. Mesmo quando a fé é envolvida, deve ser examinada.
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