Após anos de estudos das
escrituras, o Professor discursava de maneira eloquente sobre o que é Brahman,
sobre a Realidade do Ser. Suas belas palavras inspiravam diversos alunos. Porém
o Professor sabia que faltava algo ainda as ser compreendido. Havia eloquência
em sua mente e em suas palavras, porém em seu coração, faltava ainda
tranquilidade e a verdadeira compreensão. Brahman era algo ainda distante para
ele, uma verdade a ser alcançada, no futuro, talvez mesmo noutra vida. Quanto
mais discursava, mais ansioso ficava seu coração. Sentia suas palavras vazias,
elas apontavam para longe e não para si mesmo. Decidiu, portanto, procurar um
mestre, revelar a sua inquietação e buscar uma explicação que o aquietasse.
Professor: Mestre, o meu discurso é claro, sei o que contém
todas as escrituras, as Upanishads estão gravadas em minha mente. Porém, meu
coração parece não ter assimilado este Conhecimento que fala sobre o Ser. Esse
Ser parece algo ainda a ser alcançado por mim. Mostre-me o que é o Ser.
Mestre: Entendo, faça japa (repetição de mantras). Depois
retorne.
Professor: Mestre, mas eu quero que me mostre.
Mestre: Vá e retorne.
Após alguns dias o Professor, agora discípulo retorna:
Discípulo: Fiz o que me mandou.
Mestre: Então, enquanto faz os mantras, quem é você?
Discípulo: Sou o corpo que dói, as emoções que oscilam, os
pensamentos de distração.
Mestre: Faça japa.
Após dias, ansioso por contar a sua experiência, o
discípulo senta aos pés do mestre e escuta a pergunta.
Mestre: Enquanto faz os mantras,
quem é você?
Discípulo: Sou o mantra, nada
mais.
Mestre: Faça japa.
Após dias, retorna novamente,
ansioso pela pergunta do mestre e certo de que esta seria a resposta que o
agradaria.
Mestre: E agora enquanto faz os
mantras, quem é você?
Discípulo: Sou o silêncio entre
um mantra e outro.
Mestre: Faça japa.
Após dias retorna, olha nos
olhos do mestre e aguarda a pergunta.
Mestre: E agora enquanto faz os
mantras, quem é você?
Discípulo: Eu Sou, apenas.
Mestre: Este eu Sou que é você,
este é Brahnan, a realidade última do mundo, que empresta realidade a tudo o
mais. Que empresta realidade ao corpo que dói, as emoções que oscilam aos
pensamentos de distração, ao mantra, ao silêncio. Este é o real Sujeito, que
está sempre presente. Quem é você agora?
Discípulo: Eu Sou Brahman.
Aquelas palavras que sempre
apontaram para fora, agora apontavam para si mesmo, revelavam o que sempre
buscara e refletiam a si mesmo como um espelho. E assim, havendo compreendido
todas as palavras que por anos ensinou, o Discípulo, agora com o coração
tranquilo, reverenciou o Mestre e o ensinamento com enorme gratidão.
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