Na Bhagavad Gītā, Kṛṣṇa, explicando o tema Karma Yoga, ensina-nos que Yoga (neste contexto) significa samatvam. Samatvam significa equanimidade, um estado mental onde a mente está equilibrada, imperturbável, independentemente dos altos e baixos da vida. Esta mente equânime é um instrumento essencial para lidarmos com as situações do dia-a-dia de forma mais efectiva.
Neste sentido, Yoga é entendido como a atitude apropriada. Atitude apropriada enquanto realizamos acções e, principalmente, na hora de receber os resultado das acções.
A pergunta surge: como adquirir esta mente equânime? O Svāmi Paramārthānanda ensina-nos que, para ter uma mente equilibrada, é necessário cultivar certos hábitos. Quatro importantes hábitos são:
1) Aceitação
Ao longo da vida temos que realizar diversas acções, algumas fazemos com satisfação, outras com relutância. Da mesma forma, podemos receber os resultados das acções com alegria ou com raiva e tristeza. E assim surge a tendência para etiquetar certas acções e seus resultados de agradáveis e outras de desagradáveis.
Existem inúmeras coisas na vida que não conseguimos controlar, coisas sobre as quais não temos escolha. São um facto. O corpo que temos envelhece a cada momento, é um facto. O passado não pode ser mudado, é um facto. Podemos escolher as nossas acções, mas não podemos escolher os seus resultados, uma vez que estes dependem de um sem número de factores. Isto é um facto. E se é um facto, a única atitude saudável a ter é aceitar.
Devemos aprender a aceitar todo o tipo de acções e também o seu resultado. Uma aceitação pacífica que nasce de uma compreensão: tudo aquilo que experienciamos é um presente do Todo e tudo o que nos acontece na vida serve para o nosso crescimento espiritual.
2) Não comparação
A comparação com os demais ou até mesmo connosco mesmos (por exemplo em relação a coisas que fizemos no passado), cria problemas. Muitas vezes comparamo-nos com os outros e sentimo-nos, de alguma forma, inferiores ou menos sortudos em relação a eles. Temos dificuldade em aceitar aquilo que temos porque achamos que os demais têm algo mais. E isto perturba a mente.
Nós até podemos aceitar aquilo que temos com agrado mas quando julgamos que o outro tem algo que nós não temos, ficamos chateados, com raiva, e sofremos. Outras vezes, a comparação surge em relação a nós mesmos, quando nos damos conta que, hoje em dia, não conseguimos fazer ou ter coisas que no passado eram um dado adquirido.
Assim, é importante aprender a evitar a comparação, seja na hora de realizar uma acção, seja na hora de desfrutar do resultado.
3) Humildade
Se temos a capacidade para realizar certas acções e, especialmente, acções nobres, essa capacidade foi-nos dada. Aliás, devemos lembrar-nos que, todas as nossas capacidades, habilidades, talentos nos foram dados. A inteligência que temos, a capacidade para ter ideias e realizar acções foi-nos dada. E se desenvolvemos uma determinada capacidade graças ao nosso esforço e empenho, essa capacidade de aprender e de nos empenhar também nos foi dada.
Dada por quem? Pelo Todo, pelo Absoluto (Īśvara). Assim, sentirmo-nos orgulhos por ter determinada habilidade ou talento não passa de uma grande tolice, de falta de uma visão mais global. Humildade é então um hábito importante a ser cultivado.
4) Devoção
Devoção, dentro da Tradição do Yoga, é dedicar todas as nossas acções a Īśvara, como oferendas. E receber tudo aquilo que nos acontece na vida como um presente, uma bênção do Todo. Qualquer que seja o resultado, qualquer que seja a situação, agradável ou desagradável, nós recebemos com agrado. Não criamos resistência, não julgamos, não criticamos.
Tudo aquilo que experienciamos na vida é um resultado das nossas acções passadas (positivas e negativas). Assim, não existe uma vida injusta, nem um Deus injusto.
Tudo aquilo que recebemos na vida (especialmente as situações difíceis) servem para crescermos espiritualmente, tornando-nos em pessoas melhores.
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