brahmārpaṇaṁ brahma havirbrahmāgnau brahmaṇā hutam brahmaiva tena gantavyaṁ brahmakarmasamādhinā O instrumento é brahman, a oferenda é brahman, oferecida por brahman, no fogo que é brahman. Brahman é verdadeiramente o que deve ser alcançado por aquele que vê brahman na acção (em tudo). Bhagavadgītā, IV, 24.
Neste verso mais conhecido como o mantra do alimento, brahman é apontado como sendo a realidade única, o adhiṣṭhāna de tudo o que vemos. Este adhiṣṭhāna é uma palavra que só é usada quando a outra palavra é usada. A outra palavra é āropa, ābhāsa. Quando os nāmarūpas (nomes e formas) são sobrepostos em brahman, ele torna-se adhiṣṭhāna. Se usamos a palavra mithyā, a palavra que vai junto é satyam, da mesma forma com āropa e adhiṣṭhānam.
Existem três palavras envolvidas aqui. Quando sobrepomos uma cobra na corda, temos o conhecimento de um objecto que está ali, mas o que é esse objecto? Vejam, nós não tomamos o espaço vazio por cobra, nós tomamos um objecto por cobra. Portanto nós vemos um objecto. O que é esse objecto? É a corda. Então esse objecto é ādhāra. O vastu é ādhāra, é o lugar. O āropa é a cobra. O ādhāra, a corda, é tomada por cobra. Nós vemos a cobra, mas a verdade é corda, o adhiṣṭhāna. O que é para ser entendido é o adhiṣṭhāna, que é a cobra. Ādhāra é só um objecto, depois temos āropa, a sobreposição, e só então vemos a cobra - isto é um cobra!Quando vemos a cobra, a corda não é visível e por isso é chamada adhiṣṭhāna. Quando vemos a corda então, "isto" é corda. Antes, "isto" é cobra. Este "isto" não é sobreposto. "Isto" é um objecto existente. "Isto" não é uma sobreposição. Primeiro, "isto" é cobra, depois a cobra é negada no despertar do conhecimento da corda. A cobra vai embora. O "isto" permanece. "Isto" é corda. Apenas a cobra vai, porque āropa foi, revelando o adhiṣṭhāna.
Se no princípio em si eu vejo que "isto" é corda, não há um problema. "Isto é", este "é", é o nosso satyam jñānam anantam brahma. Assim, temos estas palavras, āropa, adhiṣṭhāna e ādhāra. E por isso "isto" permanecerá. A corda é jñānam.
Desta forma podemos entender melhor este "eu sou saṁsāri." Nesta noção, "eu sou" é aquele "isto" de "isto é cobra". De forma semelhante, no "eu sou saṁsāri", o "eu sou" é revelado, é auto-revelado e o saṁsāri é a conclusão, āropa. A conclusão é āropa em brahman. E brahman é o adhiṣṭhāna que sou. Quando venho a apreciar que sou brahman, o saṁsāritvam vai embora. Este "eu sou" é sempre o mesmo, quer a pessoa seja um saṁsāri ou jīvanmukta. Este "eu sou" é consciência auto-revelada, tomada por saṁsāritvam.
Assim, vemos que não existe total ignorância do que sou. Ātmā não é totalmente desconhecido, ele é suficientemente conhecido para se cometer o erro. Temos de cometer o erro. Para cometer o erro ātmā tem de ser evidente e é evidente o suficiente na forma de "eu sou". Em cima dele construímos qualquer coisa e para isso temos uma mente fértil o suficiente. O erro acontece e a correcção do erro também é possível. É possível, mas apenas com ajuda. A ajuda tem de ser com um pramāṇa vindo de fora, porque o indivíduo já está viciado na forma de se ver. Isto que vem de fora é a palavra. O śabda pramāṇa tem de parar este indivíduo, um indivíduo capaz de questionar, e fazê-lo ver por um processo de negação. Assim, sendo o que é, a pessoa é livre. O que eu não sou é negado e o que eu sou é o próprio significado das palavras do ensinamento. Para o que sou, as palavras apontam. Isso sou eu e isto é todo o ensinamento.
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