Tryambakam yajaamahe sugandhim pushtivardhanam urvaarukamiva bandhanaanmrtyormukshiiya maa'mrtaat
"Nós oferecemos reverências àquele que possui fragrância e três olhos, o Senhor Shiva, que nos abençoa com prosperidade. Que ele nos liberte da limitação da morte, assim como a fruta rasteira, ao amadurecer, separa-se naturalmente do ramo. Por favor, não permita que nos desviemos do caminho da imortalidade."
Este mantra pode ser encontrado em muitos textos, como Shuklayajur Veda, Rig Veda, Atharva Veda, Taittiriya Samhita, Taittiriya Aranyaka e Shatapatha Brahmana. O texto mais conhecido e recitado onde se encontra o Tryambakam é o Shata Rudriya (Shri Rudram), que faz parte do Krishna Yajur Veda. O Rudram contém 11 anuvakas(capítulos) e o Tryambakam encerra após o 11º anuvaka.
É um mantra tão popular quanto o Gayatri. É cantado por familiares e amigos quando há pessoas doentes ou próximas da morte no meio em que vivem. Também pode-se cantá-lo para proteger a pessoa da morte ao fazer algo perigoso, viajar etc.
Para quem deseja moksha (libertação), o mantra invoca a graça do Senhor Shiva para conquistar a morte, ou seja, entender que atma (o Ser) é imortal e livrar-se da percepção de limitação imposta pelo corpo e pela mente. É um mantra para a liberdade, natureza inerente ao atma. No estudo de Vedanta, a morte (mrtyu) é a ignorância. Só existe morte quando eu penso que sou sujeito a ela. A menção de fragrância se deve ao fato de que quem pratica ações transpira e, por transpirar, tem cheiro desagradável. O Senhor Shiva, mesmo criando, sustentando e transformando o Universo, não tem atributos de uma pessoa mortal, ou seja, não transpira. A ausência de transpiração indica a não ação. A ação é uma visão dual apenas daquele que ignora a sua natureza. Aquele que é sempre "perfumado" não morre, não nasce, não age. Pede-se prosperidade no sentido de maturidade emocional para ver-se livre do sentido de limitação e inadequação.
Também pode ser entendido como saúde em geral, pois a ausência desta é um obstáculo para o estudo e o conhecimento. A fruta mencionada é a melancia (fruta rasteira), pois, ao amadurecer, solta-se naturalmente e não pela força gravitacional. Solta-se (sem ajuda externa) e permanece no mesmo local. É como o jivanmukta (o liberado em vida). É livre da ilusão de maya (o poder de criação) e continua aqui vivendo sua vida. Esta prece deve ser aprendida e recitada usando os svaras (as três notas, inferior, superior e neutra, que regem o canto védico).
Marcelo Cruz é yogi e vive em Florianópolis, SC.
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