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Ensinamento

A realidade empírica, subjectiva e absoluta
Miguel Homem
30-06-2014


É uma análise que estabelece as realidades da vida e as acomoda para chegar a uma visão que pode acomodar a experiência humana.

A experiência humana é a existência de um mundo com o qual me confronto. Nascemos sem qualquer conhecimento do mundo e sobrevivemos graças aos cuidados dos pais ou de pessoas que fazem as vezes de pais. Crescemos não por esforço próprio, mas porque é o desenho da natureza. Para o meu desenvolvimento o ambiente parece contribuir muito. Primeiro, o ambiente imediato providenciado pelas pessoas que cuidam, ou que seria suposto cuidarem. E nisto, as suas próprias limitações e os seus problemas, parecem afectar a pessoa. Depois existe uma sociedade em que se nasce ou se cresce, que tem a sua própria cultura, prioridades e valores. Valores que são universais, valores de família, comunidade, país; preconceitos naturais, de comunidade, de linguagem, etnia, cor e género. Tudo isto são realidades. A realidade da vida pressupõe lidar com tudo isto, com o sol, falta de água, de chuva, cheias, calamidades naturais, assim como supõe lidar com as realidades sociais, politicas e históricas. Se falarmos com as pessoas, há aquelas que vêm tudo cor de rosa, há as que vêm um mundo cinzento. Em diferentes graus todos são sujeitos a isso. Isto tudo é vyāvahārikaḥ, empiricamente verdadeiro. Este empírico constitui aquilo a que chamamos īśvara sṛṣṭi.

Depois, há quem viva descontraído e quem viva no medo. O medo cria mais projecções e isto é a experiência humana comum, não é a experiência de uma só pessoa. Na mesma situação, uma pessoa pode olhar para ela como ameaçadora e outra não. O medo é subjectivo. A razão para o medo pode estar na nossa própria cabeça ou pode estar fora. O que é empiricamente verdadeiro é muito difícil de discernir quando os nossos medos, ansiedades e inseguranças interferem no nosso julgamento. Quando eles não interferem, as nossas capacidades cognitivas estão disponíveis para serem usadas e não são inibidas. Assim, existem alguns consensos. Esses consensos tornam-se a base para julgar a minha própria percepção e julgamento. Esta projecção que é uma percepção subjectiva é prātibhāsikam.

Na verdade até este prātibhāsikam tem de ser incluído dentro da ordem de īśvara, porque nenhuma possibilidade está fora dessa ordem. Se tivermos em conta o passado e as circunstâncias pessoais podemos encontrar uma explicação para cada pessoa e as suas subjectividades individuais. Se é assim, então também se torna parte de īśvara. Se está dentro da ordem de īśvara, o prātibhāsikam não existe por si. Existe apenas o empírico, īśvara sṛṣṭi.

Assim, o subjectivo, prātibhāsikam, também existe dentro da ordem de īśvara. O meu próprio contexto contribui para a minha percepção negando-me o que é a realidade objectiva, vyāvahārikam, īśvara sṛṣṭi. Essa dificuldade em lidar objectivamente com a realidade está dentro da ordem, porque não existe nada fora da ordem de īśvara. A ninguém foi dada a capacidade de operar fora da ordem de īśvara e portanto em nenhum momento estou fora dessa ordem. A única coisa é que me pode ser negada é a objectividade para ver a realidade e devido a algum contexto fazer projecções sobre a realidade. Se sou ciente disto, sou objectivo. Só existe uma objectividade que é toda a gente está dentro da ordem de īśvara. Quanto mais apreciamos īśvara na forma de ordem, mais somos objectivos. A única objectividade possível é não eliminar totalmente a subjectividade, mas entender que mesmo a subjectividade está dentro da ordem de īśvara.

Assim, temos uma discussão sobre as ordens de realidade, pāramārthikam, vyāvahārikam e prātibhāsikam. Esta discussão pode ser muito reveladora mas também nos pode fazer concluir de forma errada se cairmos no erro de ceder a conceitos. É importante por isso reter que existe apenas uma realidade, essa é a realidade absoluta, brahman, pāramārthika. Vyāvahārikam e prātibhāsikam são mithyā. Vyāvahārikam é īśvara na forma de causa e efeito. O prātibhāsikam é o subjectivo, é percepção do individuo em jogo, o contexto, a educação, a sociedade, pais, preconceitos, a genética, e tudo isso tem de ser acomodado no nosso entendimento de īśvara.

Dito isto, para o homem comum, vyāvahārikam não existe, porque vyāvahārikam para ele é absoluto. Não é vyāvahārikam porque não existe pāramārthikam e por isso existe a dualidade. A dualidade sujeito-objecto é real e isso é pāramārthikam para ele, por isso não existe vyāvahārikam. Podemos usar vyāvahārikam apenas quando temos pāramārthikam, quando temos um brahman não dual que é ātmā. Brahman é o pāramārthikam. Não existe nada mais do que isso. Não existe nada além de brahman, vijātīya, não há nada de semelhante a brahman, sajātīya. Ele mesmo não tem partes, e é livre de atributos, nirguṇa. Assim, o que vemos no mundo são atributos mithyā. Isto tem de ser claro e então temos pāramārthikam e vyāvahārikam. Do ponto de vista de vyāvahārikam, temos ainda prātibhāsikam.

Assim, a experiência comum é tomar o mundo como pāramārthikam, a dualidade como pāramārthikam. E dentro disso prātibhāsikam, porque existe erro e existe o sonho. O vyāvahārikam não existe.

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