A mente tem uma ânsia inerente por fórmulas e definições, sempre ávida por encaixar a realidade numa forma. A mente quer uma ideia de tudo, um vṛtti, porque sem ideias, a mente não existe. A realidade, sat, existe por si, mas a mente não é capaz de aceitar isso e entretem-se a lidar com o que não é real, asat. Em boa verdade, isso é tudo o que a mente pode fazer: descobrir o não real como não real.
E então ver o real como real, ver sat como sat? A verdade é que não existe tal estado de ver o real. De facto, quem veria o quê? Nós só podemos ser sat, que já somos de qualquer forma. O problema existe apenas na mente, é mental e a mente nunca dirá a verdade. O que temos é de abandonar as falsas ideias, apenas isso. Não há necessidade da mente apresentar uma ideia verdadeira, até porque ela não existe. A mente nunca dirá a verdade do que somos.
Ainda assim, é-nos dito que devemos buscar sat, porque a mente precisa de um propósito. Mas na verdade ātmā jñānam, o conhecimento do real, que é o si mesmo, é a liberdade da noção de ser o indivíduo. Ser livre das falsas noções de si mesmo é o bastante. Nós não podemos conhecer o conhecedor, porque nós somos o conhecedor. O simples facto de conhecer, prova o conhecedor, nenhuma evidência é necessária. O conhecedor do conhecido não é cognoscível. Assim, como a luz só é conhecida nas cores que revela, o conhecedor é conhecido na existência do conhecimento.
O conhecedor é conhecido no conhecimento, mas não é uma inferência! Eu conheço o meu corpo e mente, mas não sou uma inferência. Eu conheço-me a mim mesmo, sendo eu mesmo, da mesma forma que me conheço homem, sendo-o. Ninguém se lembra constantemente de que é homem ou mulher. É apenas quando isso se revela necessário ou é questionado que é lembrado.
Nós precisamos de um gancho para poder pendurar um quadro ou uma fotografia na parede. Se não existe gancho aonde se pode pendurar essa imagem? Da mesma forma, para se localizar uma coisa, precisamos de espaço, para localizar um evento precisamos do tempo, mas aquilo que é livre do tempo e espaço desafia qualquer localização. Isso é o que torna tudo perceptível, mas em si mesmo, é além do escopo da percepção. A mente não pode conhecer o que está além da mente, mas a mente é conhecida por aquilo que está além dela mesma.
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