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Ensinamento

O Tempo
Miguel Homem
29-09-2014



A ideia de três divisões de tempo é um mito. Se analisarmos passado, presente e futuro veremos que todos são mito, mithyā. Quando analisamos o passado, vemos que o passado existe apenas na nossa memória. Não existe uma coisa passada a existir externamente. Bom, diremos que o passado não existe externamente (objectivamente) agora, mas existiu objectivamente no passado. Ontem é o passado que não existe hoje, mas este passado existiu, objectivamente, no passado. O ontem existiu externamente, objectivamente, ontem. Ramaṇa diz-nos, quando ontem existiu ontem, não era chamado de ontem, mas de hoje. Ontem não existiu ontem, porque só existiu como hoje (no ontem). Ontem também não existe como realidade hoje. Então onde está ontem? Ontem é a nossa imaginação, memória. Nós só seguimos uma série de hoje, hoje, hoje, hoje. O passado experimentámos como hoje, hoje experimentamos como hoje e o amanhã será experimentado como hoje. Assim, o que existe objectivamente é hoje, hoje, hoje. Ontem é um mito na nossa imaginação.

E amanhã? Amanhã não existe externamente hoje. Podemos dizer que o amanhã existirá objectivamente (como realidade) amanhã, mas no amanhã não será amanhã, será hoje. Amanhã é um conceito. Ontem é um conceito, é um nome para a nossa memória. Amanhã é apenas um nome para as nossas projecções, imaginações, é um sonhar acordado.

Assim, quando dizemos que o passado nos magoa, não é o passado que nos magoa, porque o passado não existe. O que nos faz sofrer é a memória. A memória está no passado ou no presente? A memória, com referência ao passado, existe no presente. De forma semelhante, o que nos preocupa não é o futuro, o que nos causa receio é o pensamento do futuro que existe no presente. É um pensamento presente, que lida com um futuro que pode vir. Assim, só temos memórias e projecções e além de memórias e projecções não existe passado ou futuro. Tudo o que existe é apenas presente.

Assim, passado e futuro existem no seu próprio tempo. Eles não existem agora, o passado existe no passado e o futuro existe no futuro. Assim passado e futuro existem no seu próprio tempo e quando existem no seu próprio tempo, não existem como passado e futuro mas existem apenas como presente. Isto significa que apenas o presente existe.

Se queremos analisar o tempo, temos de analisar o presente. Sucede que o presente é outra incógnita. É que todo o presente, em si mesmo, tem uma duração de tempo. O dia presente tem uma duração de 24h, e nessas 24h, as 24h não são presente. Das 24h, 23h ou são passado ou são futuro. Diremos que só uma hora é presente. Sucede que na hora presente, apenas o minuto presente é o presente. Os restantes 59 minutos são passado ou futuro. O minuto presente será reduzido a segundos. E se continuarmos, veremos que o presente é apenas um instante fugaz, e nem mesmo isso.

É exactamente como a definição de um ponto na matemática. Um ponto é uma linha sem dimensão. Ora como conceber uma linha sem dimensão? Mas assumindo que seja, como podem pontos sem dimensão juntar-se e produzir uma linha com dimensão? O que é um ponto é um mistério em matemática, da mesma forma o que é o presente é um mistério. Vamos assumir que presente é um instante, um instante fugaz. Qual é a realidade desse presente?

Se analisarmos a verdade desse momento presente é uma noção aparente causada pelo ahaṁkāra. A consciência livre do tempo, é localizada como o presente finito, por causa do ahaṁkāra, que é causado pela identificação com o corpo, deha abhimāna. No momento em que o deha abhimāna vem, o momento presente chegou. No momento em que a identificação com o corpo se vai embora, não há presente e por isso é que nunca podemos dizer "eu estou a dormir". Para um verbo ser usado temos de ter tempo. O verbo existe no presente, passado ou futuro e em diferentes conjugações consoante a gramática da língua. Depois de acordar, com a memória, posso dizer que "eu estava a dormir", mas para isso o deha abhimāna é necessário.

Quando a identificação com o corpo, o deha abhimāna, vai, o tempo desaparece. O presente não existe e então passado e futuro também não. A verdade dos três períodos de tempo é o presente; a verdade do presente é o ahaṁkāra e a verdade do ahaṁkāra é ātmā. O ātmā aparece como os três tempos através do corpo.

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