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Ensinamento

Uma prática para moksha?
Miguel Homem
23-11-2015


Advaita ou mokṣa, a libertação, não é um novo status que é alcançado através de uma prática específica. Seja ela karma, jñāna ou outro sādhana. Se é um novo status adquirido pelo karma ou jñānam, torna-se condicional, produzido no tempo e espaço. Se é um novo estado que não estava lá antes e que veio à existência sob determinadas condições, mokṣa torna-se condicional. Mokṣa torna-se kārya, um efeito. Qualquer coisa, qualquer estado ou objecto que tenhamos produzido pelo nosso esforço é chamado kāryam, um efeito, e o que quer que seja produto ou efeito, não pode ser a verdade, será uma coisa relativa. Se é assim, quando as condições não estiverem preenchidas mokṣa também irá embora e, por isso, não se aceita que advaita seja uma coisa nova que chega num momento.

É um pensamento comum, pensarmos que agora existimos em dvaita, na dualidade, que vamos fazer uma série de práticas e que no final chegaremos ao advaita.
Desse pensamento o que retiramos é que enquanto dvaitam estiver presente, advaitam não estará presente. Quando dvaitam está, advaitam não está, e quando chegarmos a advaitam, dvaitam irá embora. Dvaitam e advaitam tornam-se duas coisas que estão inter-relacionadas como a noite e o dia. Quando os dois são inter-relacionados tornam-se relativos. A existência de um depende da não existência de outro e não podem coexistir. Ora, advaitam é aquilo que não depende de nada, é satyam, trikāla abādhitam satyam, e por isso permanente, nityam. Advaita é absoluto, incondicional. A verdade ou advaitam, não é um quarto estado de consciência (turya avasthā) que chegará no futuro, onde não haverá dualidade. Advaita era, advaita é, e só advaita sempre será. De facto, quando ganhamos o conhecimento sabemos que nos três períodos de tempo, passado, presente e futuro apenas o advaita existe.

Cita-se frequentemente o exemplo da famosa história do décimo homem. A história é conhecida. Quando este décimo homem pensava que o décimo homem estava perdido e o procurava por todo o lado, também já nessa altura ele era o décimo homem. Entretanto, quando o velho chega, vê a situação, e diz que o décimo homem existe, "o décimo homem existe aqui, agora, e vou mostrar-te", ele não diz que irá fazer aparecer o décimo homem. Não existe nenhuma promessa feita. O "aqui, agora" envolve apenas um método de descoberta. O conhecimento que ele ganhará nessa descoberta não o faz tornar-se o décimo homem. Pelo conhecimento ele soube que ele era, é e sempre será o décimo homem. Na verdade, a realização é que ele foi um pateta e é por isso que não pode haver arrogância em mokṣa. No momento em que ele busca o décimo homem, na própria busca, ele nega a existência do décimo homem. Ele tem de parar de buscar. Sucede que se ele pára de buscar, não o vai encontrar, e se o procura, tampouco o vai encontrar. Nesse momento sem esperança e desamparado, ele rende-se ao velho que aparece para ajudar.

Esse velho é o guru śāstra upadeśa, o ensinamento do śāstra pela boca do mestre. Aqui, também, não é que agora eu seja um jīva limitado e depois do conhecimento, me torne o brahman ilimitado. Agora, mesmo ignorante, eu sou brahman, e mais tarde continuarei a sê-lo. A diferença é que antes eu era brahman e não sabia, agora sou brahman e sei. A diferença existe no nosso reconhecimento e não no facto. Nenhuma mudança aconteceu na sua personalidade. Ele tem o mesmo corpo físico, os mesmos sentidos, mas existe uma diferença no entendimento.
Da mesma forma, com o conhecimento, o mundo não vai mudar, não iremos ver brahman em algum lado ou ātmā em todo o lado. O mundo continuará a ser o mesmo, o corpo continuará a ser o mesmo, a percepção também será a mesma, mas saberei a verdade, sei que só advaita é satyam e todas as outras coisas são nāmarūpa. Assim, não se deve pensar que mokṣa é uma nova situação que vai chegar.


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