Pesquisar:







banner_yoga_pro_br

Estudo da Bhagavad Gita

O ensinamento da Bhagavad Gita
Miguel Homem
03-09-2012


Que o tema central da Gita é jñanam resulta do primeiro verso de ensinamento de Krishna:

"Lamentas por aqueles que não merecem ser lamentados e, ao mesmo tempo, falas palavras sábias. Os sábios não se lamentam por aqueles cuja respiração já se foi, nem por aqueles cuja respiração ainda não se foi." II, 11.

A semelhança entre este início e o do diálogo transcrito acima da Chandogya Upanishad é clara.
Que a Bhagavad Gita segue os Vedas foi expresso pelo próprio Krishna no início do Capítulo IV e no Capítulo XIII:

"De muitas formas foi cantado pelos Rishis... e de facto é explicado pelas palavras dos Vedas que revelam Brahman, sem dúvida, com lógica e de forma racional." Capítulo XIII, 4.

No primeiro capítulo, Arjuna atravessa a experiência do samsara de forma intensa. Não que antes não o experimentasse, mas naquele momento, em kurukshetra, os problemas tornam-se mais evidentes, raga, shoka e moha. Arjuna quer abandonar a guerra, por causa da sua confusão (moha) acerca do que é esperado de si e do que é adequado.

Arjuna sofria de raga, shoka e moha e isso é descrito pormenorizadamente no primeiro capítulo, é descrito o apego à família e aos seus mestres, a Bhishma e Drona. Arjuna não consegue conceber a ideias de perdas familiares. Desse processo nasce o sofrimento e a depressão. Quanto mais apego, mais sofrimento e Arjuna mostra sinais claros de depressão:

"Os meus membros perdem a sua força, a minha boca seca, o meu corpo treme e sinto horror. O arco, gandiva, cai da minha mão e a minha pele queima. Não sou capaz de estar em pé e a minha mente está absolutamente confusa" Capítulo I, 29-30.

A descrição serve o propósito de mostrar a intensidade do problema de Arjuna, a intensidade de shoka e moha.
Arjuna não entende qual é o problema, não conhece a solução e ainda assim tenta resolvê-lo por si mesmo. No primeiro capítulo, Arjuna tenta resolver o problema por si mesmo e Krishna mantém-se calado.
No segundo capitulo, Arjuna descobre que o problema não é superficial, discerne que é um problema entranhado, profundo, e mesmo que o tente resolver por si, seria sempre uma solução provisória; descobre a sua impotência e assume-se como shishya, um estudante, um discípulo.

"Miserável como me vejo, confuso acerca do certo e do errado, peço-te: Por favor, diz-me o que é melhor para mim. Sou teu discípulo. Por favor, ensina-me, entrego-me a ti." 7

O nosso próprio esforço não é suficiente e não trará o que buscamos. Este entendimento, em si, é uma descoberta e é o primeiro passo que cada um tem de dar. O passo seguinte é a necessidade de alguém que nos possa guiar, um professor. Este guia tem de alguém em quem toda a confiança possa ser depositada, por isso shraddha e bhakti são tão importantes. Arjuna tinha o guru perfeito disponível à sua frente! Os Vedas são muito claros sobre esta fatalidade. Cada um precisa de um tempo até o descobrir, mas enquanto não o descobrir o Vedanta não funciona, a Bhagavad Gita não funciona. Nos versos iniciais do segundo capítulo Arjuna descobre esta verdade. 


Só quando Arjuna descobre a sua impotência e se rende a ela, o discípulo aparece - shishyaste aham - e ele fica verdadeiramente apto e disponível para ouvir o ensinamento. Por esse motivo, Krishna só começa a falar depois de Arjuna se assumir como discípulo. Isto revela-nos que o ensinamento tem de ser pedido, mumukshutvam tem de estar presente. A mente que se expõe ao ensinamento não pode ser aquela que quer testar e confrontar, mas a mente que quer saber.

Com aquele pedido e declaração, Krishna torna-se o mestre e Arjuna, o discípulo. Até ali, Arjuna era o comandante e Krishna, o cocheiro. Enquanto esta mudança não operasse, o ensinamento não teria qualquer impacto. Só então o ensinamento tem lugar e isso dita a atitude em relação ao professor e ao ensinamento. Por força dessa atitude nasce o namaskara natural ao nosso professor.
No verso 11 do segundo capítulo, Krishna começa a ensinar e ali começa a Gita Shastra:
"Lamentas-te por aqueles que não merecem lamento e ainda assim falas palavras sábias. Os sábios não se lamentam por aqueles cuja respiração já se foi, nem por aqueles cuja respiração ainda não se foi." 11

Ao começar Krishna deixa logo clara a causa do problema e a solução: ajñanam shoka karaŠam, jnanam shoka nirvritti karanam.

Durante os 17 capítulos de ensinamento, Krishna transmite a essência dos Vedas. Como vimos, este ensinamento pode ser dividido, grosso modo, em duas partes jñana yogyata e jñanam. Como o ensinamento na Bhagavad Gita não é exposto de forma sistemática e para mais facilmente fazermos a introdução ao ensinamento, podemos explorar a Gita de acordo com estes temas essenciais.

Mantendo moksha em mente, os Vedas prescrevem disciplinas - sadhana - para alcançar sadhyam - o objectivo. O sadhana pode ser visto em três etapas: primeiro Karma Yoga, segundo Upasana Yoga e terceiro Jñana Yoga. Cada uma das etapas é chamada yoga. Yoga significa aquilo que conecta o sadhaka com o sadhyam (da raiz yuj).

Muitos pensam que estes yogas são caminhos alternativos a ser escolhidos pelo indivíduo conforme a sua preferência, mas o Veda não os apresenta como uma opção. O Veda apresenta-os como estágios pelos quais todos têm de passar, sem saltar nenhum, ou escolher um em detrimento do outro. Todo o yogi, mais tarde ou mais cedo se cruza com esta verdade ao longo do seu caminho.


Partilhe este artigo: 
| Mais


 

 



Desenvolvido por pontodesign  
 X