Aquando da vinda do Swami Dayananda a Portugal, o Swamiji orientou 2 meditações. Muitos foram os que gostaram e me perguntaram sobre o esquema que foi seguido. Assim e respondendo a esse pedido elaboro de forma esquemática os principais pontos daquelas meditações.
Definição
Meditação clássica é definida como sendo saguna brahma vishaya manasa vyaparaha, ou seja, a actividade mental em relação com Brahman com atributos (Ishvara). De forma simples, a actividade mental através da qual aquele que medita se relaciona com o todo manifestado.
Objectividade
O Swamiji sempre insiste que a meditação acontece quando a pessoa essencial que somos é encontrada. E para que ela seja encontrada é preciso que a pessoa esteja só. Só não externamente, mas só na sua mente.
A maior parte do tempo trazemos connosco uma autêntica procissão de família, amigos e inimigos. No momento da meditação é preciso abandonar a procissão :) Isso acontece quando se deixa cair o desejo de querer que as pessoas mudem. Temos de entender que as impressões que as pessoas deixam na nossa mente são baseadas na nossa percepção. Assim, em relação a cada uma das pessoas que estão na nossa mente, reconhecemos que é assim que cada uma delas é na nossa percepção. E sabemos que a nossa percepção pode estar correcta ou errada. É, apenas, a nossa percepção. Aceitamos essa realidade e então somos objectivos. Da mesma forma que somos objectivos em relação ao nosso corpo e respiração, somo-lo em relação à nossa mente.
Tão logo esta objectividade é adquirida, alcançamos a pessoa essencial que se relaciona com Ishvara.
Prática
- Sentar
Valem aqui as indicações comuns a propósito da posição sentada. O importante é que cada um encontre um asana confortável onde possa permanecer sereno por um tempo considerável sem necessidade de se mover. Isso acontece com a prática e o treino.
O importante é manter as costas rectas, o corpo relaxado, mas estável. O Swamiji costuma sugerir que se pousem as mãos sobre o colo ou pés com os dedos entrelaçados e os polegares tocando-se. Mais uma vez vale o gesto das mãos que melhor se adequar a cada um.
- Olhar
A cabeça voltada em frente, com as pálpebras fechadas. As pálpebras devem fechar-se gentilmente, sem tensão e sem criar rugas. Nas estátuas de Buda é comum ver-se as pálpebras fechadas e completamente lisas. Procura-se manter-se esse mesmo semblante.
- Objectividade – manter o mundo externo, externo.
a) Visualize a natureza
Procuramos não imaginar, mas apenas visualizar o que já conhecemos, por exemplo, podemos visualizar um bosque, um pôr do sol. Em relação à natureza somos objectivos. Aceitamo-la como ela é. Não queremos que o pôr do sol ou uma montanha sejam diferentes do que são. Tornamo-nos um sujeito não reivindicativo, apreciativo e consciente.
b) Pessoas
Em relação às pessoas que pululam na nossa cabeça também podemos ser objectivos, aceitando-as como elas são. Em relação a cada uma assumimos que é assim que a pessoa é ou era na nossa percepção e se a pessoa nos incomoda, somos objectivos – tal qual o fomos em relação à natureza – e damos-lhe a liberdade para ser como é. Dessa forma, libertamos e libertamo-nos de cada pessoa que nos perturba.
- Corpo
Trazer a atenção para o corpo e mentalmente percorrer o corpo todo. Percebemos o corpo em relação à altura, peso, género, idade, saúde, cor e aspecto com o que nos tornamos objectivos em relação ao corpo.
- Respiração - pranavikshasanam
Testemunhar a respiração, a inspiração e expiração, sem com isso se alterar o ritmo e a cadência. Isso traz sossego à mente.
- Tacto
Perceber a sensação do tacto por todo o corpo, nomeadamente o contacto do corpo no chão, as mãos e as pálpebras.
- A mente
Observar a mente. Aquele que é consciente da mente é quem somos, a pessoa essencial. Esta pessoa essencial relaciona-se com Ishvara numa forma particular que pode ser invocada através de um puja mental ou de um mantra.
Japa
Começa então a repetição do mantra. Se a pessoa não tem um mantra pode fazer por exemplo, Om Ishaya Namaha, a Isha, Ishvara, o meu namaskara, a minha saudação. A repetição mental não está ligada à voz e à respiração. Deve-se assegurar que a repetição não está sincronizada com o ritmo respiratório nem com uma vocalização subtil.
O compromisso está com a repetição do mantra e com a observação do espaço de silêncio entre cada repetição. As distracções acontecem no intervalo, por isso quando se está atento a esse intervalo as distracções reduzem-se.
Quanto se pára a repetição, repare que a vontade própria não surge logo, não a usamos, somos apenas nós mesmos. Nesse silêncio somos nós mesmos e com a repetição isso não se altera. Na meditação, fora dela, esse Ser Consciente que somos mantêm-se inalterado testemunhando todas as mudanças que são, apenas, externas a nós mesmos.
Podemos perceber isso, recomeçando e parando várias vezes a repetição. Repare que para sermos nós mesmos não existe esforço envolvido. Percebemos o conforto sendo nós mesmos. Não precisamos de conforto externo. Somos livres para ser a fonte de conforto para outras pessoas, porque nós mesmos percebemos esse conforto em nós, sem esforço. |