Kirtan é o chamamento, o pedido espalhado pelo infinito – é o mergulhar do coração em direcção à mais profunda necessidade de tocar e ser tocado pela presença divina.
Kirtan é cantar vezes sem conta os muitos nomes de Deus e da Deusa. O arco-íris das multi-coloridas manifestações do Ser. Diz-se que não há diferença entre o nome e o que está a ser chamado, e quando as palavras são proferidas pelos nossos lábios na música, o Infinito é invocado, convidado, manifestado em nossos corações.
Kirtan faz parte de uma antiga forma de Yoga, conhecida como Bhakti Yoga, ou o Yoga da devoção. Mas no Bhakti redefinimos "devoção", expandimos o seu sentido para incluir todas as tonalidades na paleta da emoção humana e voltamo-las para o Divino através da música, da dança e da adoração. Estes cânticos são entoados há milénios, por sábios, pecadores, devotos, e pelos grandes yogis alquimistas do passado. E, quando cantamos, tocamos o espírito de milhões de pessoas através dos séculos que cantaram as mesmas canções e choraram as mesmas lágrimas.
Enquanto cantamos, mergulhamos num rio interminável de oração que está fluindo desde o nascimento dos primeiros seres humanos, ansiando por conhecer o seu criador.
Kirtan é como um barco que nele transporta o amor, a saudade, a união, a separação, a luxúria, o desespero, a tristeza, a raiva ,o ódio, o êxtase e a união. Alimentado pela força destas emoções, cantamo-nos para a outra margem. Na luz, na escuridão, no desespero, na alegria cantamos os nomes - O nome - e voltamos os nossos corações em direcção ao Um, que está mais perto de nós do que a nossa própria respiração. Kirtan é o alimento para o espírito, uma jangada salva-vidas feita de canções.
Kirtan é para todas as pessoas. Não há donos do kirtan, não há especialistas, não há professores, estudantes avançados, iniciantes. A prática em si é o professor, orientando-nos a nós próprios. Kirtan ensina-se a si próprio, permitindo-nos entrar num misterioso mundo - um mundo onde toda a lógica da nossa mente, todo o condicionamento e aprendizagem são deixados fora - e permitimo-nos expandir em direcção ao mistério.
E, neste mistério, criamos um templo dentro de nossos corações, um lugar de refúgio, um lugar de amor, um lugar de estar, de ser, um lugar de santidade... o que quer que precisemos.
Não há maneira certa ou errada de cantar kirtan. Kirtan pode ser esplendidamente bonito, a música pode ser deslumbrante e magistral; e pode ser cacofónico, dissonante, e quase doloroso para os ouvidos. Estética, não importa. Tudo o que importa é o espírito, o sentimento. Não se preocupe como você soa, sinta o que você sente, não tenha expectativas, sem inibições. Kirtan é como um perfurador de petróleo cavando cada vez mais fundo em direcção ao coração. Uma poderosa ferramenta de amor e aspiração. Um comboio transportando-nos para casa. Faça dos kirtans as suas orações e utilize os seus próprios poderes para acender a sua alma. Nós cantamos juntos e cada pessoa tem uma experiência totalmente original e individual. Porém, cantando juntos, damos força, segurança e paixão uns aos outros, e damo-nos permissão para cantar e dançar livremente, libertar e expressar através das nossas vozes e corpos, as emoções bem trancadas nos nossos corações. A dor da separação é una com o êxtase de união. E, finalmente, kirtan é uma oferta, um dom para o grande Ser que nos deu tudo e ao qual podemos dar nada em troca, a não ser a nossa sentida e profunda recordação.
Retirado de jaiuttal.com/kirtan/what-is-kirtan/
Tradução Daniel, baixista nos Mangalam |